O centenário de um Jornal exige uma reflexão sobre o papel que exerceu por tão largo tempo, numa sociedade. Qual a contribuição que deu na transmissão das informações, na formação de opiniões, na interpretação dos fatos políticos, econômicos, sociais, na formação de leitores, num século tão efervescente como foi o século XX e não menos intenso como essas décadas iniciais do século XXI. O Jornal do Commercio conseguiu ultrapassar as contingências da sua história e alcançar um patamar de respeitabilidade e qualidade que o coloca dentre os melhores jornais brasileiros.

Mas, não podemos perder de vista uma característica fundamental dos jornais que é conter principalmente textos escritos e que, por óbvio, atraem leitores. O mundo vem se transformando numa velocidade nunca antes vista graças à tecnologia, às vezes até desconcertante, que atingiu fortemente as comunicações. A instantaneidade da divulgação de fatos ocorridos até do outro lado do mundo, torna difícil acompanha-los pelos meios tradicionais.

Tudo isso leva a um repensar de como adequar os jornais sem lhes retirar a sua forma escrita de transmissão. Dentro da História da Humanidade, foi através da escrita o modo mais eficaz de perpetuar o registro dos fatos, quer tenham sido gravados na pedra, nas lâminas de prata ou de bronze, em papiros, em pergaminhos até chegarmos ao papel de hoje. Foi uma longa caminhada. Agora, estamos frente ao desafio de encontrar o novo sem esquecer o antigo mas válido brocardo: verba volant, scripta manet. 

A permanência da escrita nos leva a um outro patamar de observação, significa que há quem leia. Aí se forma uma forte relação de reciprocidade: está escrito para que permaneça e é lido para ser conhecido. Buscar a permanência é inerente ao ser humano e sempre levará os leitores para os registros fatos.

Com relação aos jornais, se nos voltarmos para um passado não muito distante e é possível que ainda aconteça em algumas comunidades, muitos são os relatos de pessoas que confessam com certa emoção que aprenderam a ler soletrando as colunas de um jornal. Alguns meninos do interior, hoje intelectuais conhecidos, relembram que iam à estação esperar o trem para pegar os jornais para o pai e em casa, com as mães usavam os periódicos para aprender a ler pois não dispunham de outro material para alfabetização.

O hábito da leitura está muito ligado aos jornais pois atraem, pela informação, a curiosidade do leitor que deseja saber sempre mais. Hoje, como ontem, o jornal guarda a sua finalidade de comunicar procurando um invólucro para a notícia que mantenha a atração permanente dos leitores que buscam não apenas o fato, mas encontrem nele as respostas às suas indagações e sirvam de fonte permanente da Memória.