Hoje falo de admiração e saudade.
Perdemos, a Faculdade de Direito do Recife e o mundo jurídico, uma das nossas maiores juristas e figura humana. Primeira professora da FDR e, permitam-me as colegas a afirmação, a mais brilhante de todas nós. Nascida em Monteiro, na Paraíba, terra de grandes juristas, Bernadete Pedrosa, professora de Teoria Geral do Estado ao lado de Lourival Vilanova e Nelson Saldanha, magnetizava os seus alunos com a profundidade, a clareza e a objetividade das suas aulas. Gerações de ex-alunos relembram sempre com admiração e muito carinho da grande mestra que ela foi.
Advogada de Ofício por concurso, como era então denominado o Defensor Público, exercia com enorme zelo as suas funções. Durante muitos anos a Justiça pernambucana teve numa mesma Vara um trio de devotados à causa da justiça: Aloisio Xavier (o pai), como juiz; João Cantarelli, como Promotor e Bernadete Pedrosa, como advogada de ofício. Acompanhei muito de perto esse tempo.
Mas, foi como professora da querida Faculdade de Direito que Bernadete marcou definitivamente o seu lugar entre os grandes nomes da história daquela Casa.
Estive na recente e justa homenagem que a diretora da Faculdade, Luciana Grassano, lhe prestou. Ouvimos as palavras de Bernadete, sem imaginar que seria a última vez, com a atenção e o respeito de sempre. Emocionamos-nos, Eleonora Luna e eu, com os sinais impiedosos do tempo sobre a nossa querida amiga.
Sim, amiga – Bernadete sempre foi uma amiga sincera, leal, discretamente presente sem jamais faltar com os deveres que para ela a amizade impunha.
Depois da aposentadoria, escolheu o recolhimento como modo de vida. Era de ser respeitada a sua opção. Mas, relembro com saudade de quantas vezes, no terraço da sua casa, na rua Afonso Baptista (nunca aderiu aos apartamentos) ao lado da sua meiga mãe, D. Auta e da sua irmã Lígia, passamos bons momentos de conversa, no melhor estilo das famílias de um tempo em que se tinha tempo para viver amizades.
Hoje o céu de Paris está cinza, muito cinza como o meu coração e, tenho certeza, o dos muitos amigos que tanto a estimavam. A Torre Eiffel, semi-encoberta, parece menor, como nos sentimos nesta hora de lembranças e de saudade.