O carnaval é uma festa sem meio termo, ou se gosta (mesmo que não se brinque) ou se detesta. Eu estou entre os que gostam e brinquei muitos carnavais. Recordo-me com saudades dos antigos carnavais do Recife: do corso pelas ruas do Centro, carros abertos, jeeps, do mela-mela de água com talco, das serpentinas com muita música e alegria. Os bailes dos Clubes Português e Internacional, e na quarta-feira ingrata aquela famosa volta na Praça (em frente ao Clube) acompanhando a Orquestra de Nelson Ferreira com o dia amanhecendo. Para compensar só mesmo o cheiroso cachorro quente da porta do Clube (só de pensar, aumenta o meu colesterol)! Era no carnaval que nos deliciávamos com os “filhoses” embebidos na calda de açúcar que restabeleciam a glicose consumida nos passos do frevo.
Como viajante contumaz, aproveito os dias de carnaval para procurar Momo noutros lugares. Em Lisboa, há muitas crianças fantasiadas passeando com a família pelo Rossio. Quando se toma o Bonde 28, na Martin Moniz para o Castelo de São Jorge, é frequente verem-se turminhas de colégios, todos fantasiados, acompanhados das professoras, passeando naquelas ladeiras estreitas. São fantasias graciosas, como Homem Aranha, Bruxinhas e Fadinhas. Como é inverno, precisam cobrir bem o corpo. Na cidade de Torres Vedra há uns desfiles tipo Escolas de Samba brasileiras, porém bem mais simples.
Noutro ano, resolvi ir com amigos conhecer o Carnaval de Veneza! Deve-se ficar hospedado na parte antiga da cidade o que não é fácil, pois é preciso tomar no aeroporto uma “lancha taxi” com as malas e sair arrastando a bagagem à procura do Hotel, pois os endereços são bem complicados especialmente à noite. É interessante, embora muito diferente. Nos canais, as gôndolas sempre cheias, as pessoas acenando. Na Praça de São Marcos (ao som de música Country) muitos casais ricamente fantasiados, bonitas máscaras, mas parados ou em lento passeio, pareciam que compunham um cenário, prestando-se amavelmente para fotos com turistas. Os foliões apareciam em grupos, estrangeiros barulhentos com fantasias improvisadas. Vi poucas crianças pelas ruas. Há muitos bailes fechados, alugam-se fantasias e custam caríssimo. Resolvemos no domingo ir ao “Concerto de Carnaval” que estava bem divulgado. Com os ingressos, partimos para encontrar o Teatro. Os músicos apareceram vestidos à moda do século XIX, o programa, muito bem executado, “As Quatro Estações”, de Vivaldi! Mas, lá dentro minha alma cantava: Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelón!