Conheço Josias Albuquerque há cerca de trinta anos. Ambos integrávamos a equipe do jovem secretário do Trabalho e Ação Social, Joaquim Francisco de Freitas Cavalcanti, no governo que se iniciava do Governador Moura Cavalcanti. Josias foi nomeado diretor do Departamento de Formação para o Trabalho (antigo Departamento de Mão de Obra) e eu para o Núcleo de Planejamento e Assessoria Jurídica. Daí nasceu uma excelente convivência e consolidou-se uma verdadeira amizade.
Considero Josias um dinâmico administrador, muito criativo e corajoso, capaz de grandes realizações. É assim que ele vem sendo ao longo de toda a sua vida profissional. Por onde passa, deixa a sua marca de eficiência e inovação. É, sobretudo, alguém verdadeiramente comprometido com a Educação, movido pelo sentimento de que só através dela é possível fazer crescer as pessoas como seres humanos. Pensa a “Educação para o Trabalho” não como mera fornecedora de mão de obra, mas, acima de tudo, como forma de desenvolvimento intelectual da pessoa de modo a habilitá-la ao exercício profissional digno.
Esta sua visão da Educação e das pessoas nos tornou muito próximos. Daí porque, quando trabalhamos juntos, ele sempre contou com o apoio do Departamento Jurídico para encontrar a melhor forma de concretizar os seus sonhos, que eram os nossos sonhos, a serviço do Governo que integrávamos, mas, sobretudo, da sociedade que desejávamos contribuir.
É deste tempo da Secretaria do Trabalho e Ação Social que tenho algumas histórias a contar sobre Josias, o nosso trabalho e a nossa amizade.
Logo que assumiu o cargo, Josias notou que os Centros de Formação Profissional existentes representavam um trabalho socialmente muito importante, mas poderiam se tornar melhores. Evidente que cursos permanentes, num só local físico, não saturariam o mercado de trabalho em razão da carência de Educação, mas deixavam de alcançar muitos outros jovens e adultos pela impossibilidade de deslocamento destes para onde os Centros funcionavam. Pensou então nas “Unidades Móveis” que se deslocariam para outros bairros e outras cidades levando ao usuário o ensino profissional. Logo conseguiu financiamento para tal projeto. Mas, seria um desperdício que as Unidades (tipo baús) ficassem presas à boléia que as transportavam durante toda a sua permanência numa localidade. Daí veio a melhor solução, a Unidade permaneceria no local do oferecimento dos cursos, enquanto a “boleia” voltaria para transportar outras Unidades para outros destinos. Era a otimização dos recursos. Mas era preciso elaborar os convênios e isto cabia à Assessoria Jurídica, melhor dizendo a mim. Pouco afeita aos termos técnicos relativos a veículos, todas as vezes que precisava me referir a esse meio de transporte, em vez de chamá-los de “Cavalos Mecânicos”, só escrevia “Macacos Mecânicos”, o único animal que eu associava a carros. Até hoje Josias se lembra das minhas trocas de “cavalos” por “macacos”, mas o importante é que o programa foi um sucesso.
Com as “Unidades Móveis”, “cavalos” ou “macacos mecânicos”, Josias pioneiramente descentralizou e interiorizou cursos de formação profissional pelo Estado de Pernambuco o que foi extremamente importante e louvável, serviu de paradigma na década de 70 e abriu portas para que outras Instituições também o fizessem.
Ao mesmo tempo, Josias havia sido designado Presidente da Comissão de Defesa Civil de Pernambuco, no período das enchentes no nosso Estado e de modo especial no Recife. Lembro-me da grande enchente de 1975. Além da calamidade em si, houve o terrível boato do rompimento da Barragem de Tapacurá.
Vínhamos de dias e noites em plantão permanente na Cadecipe que ficava no Palácio Frei Caneca (também conhecido como Palácio dos Despachos), na avenida Cruz Cabugá, relativamente perto da Secretaria do Trabalho. Acompanhávamos a tragédia de perto procurando atuar para minorar a situação que era gravíssima. Ali fazíamos tudo, recebíamos donativos, encaminhávamos para os locais mais necessitados, tomávamos providências, atendíamos aos chamados do interior do Estado, enfim, o que fosse necessário.
Quando as coisas pareciam começar a ser acalmar, eis que surge o boato do rompimento da Barragem. De repente as notícias chegavam ao Palácio como que provindas de fontes seguras, ao mesmo tempo em que outros órgãos recebiam as mesmas informações com aparente fidedignidade. O Comando Militar, a Sudene, o Dnocs, a imprensa, todos ficamos perplexos sem saber o que estava realmente acontecendo no Carpina. As comunicações não eram fáceis como hoje, não era tempo dos celulares. A cidade virou um pandemônio, já não sabíamos o que acontecia. Josias foi de helicóptero da Aeronáutica sobrevoar a área para trazer uma informação verdadeira. E nada estava acontecendo, era uma falsa notícia, um boato, um crime hediondo que causou mais vítimas no Recife do que a própria enchente.
Até hoje é uma incógnita para mim, não sei se a Polícia ou os Órgãos de Informação que ainda eram bem fortes naquele período, descobriram a origem do boato. Só conheço as conseqüências. Lamento que autores de tamanha tragédia, um verdadeiro ato terrorista, não tenham recebido a punição merecida. Que, pelo menos a consciência dos que assim procederam, aplique-lhes a pena do remorso.
Mas, toda tragédia tem o seu lado cômico. Nós diretores permanecíamos na CODECIPE, enquanto os funcionários revezavam-se, quando possível. A secretária de Josias, quando voltava à noite para sua residência, preparava um precioso farnel e mandava pelo motorista que a conduzira, não sem antes me telefonar pedindo que eu servisse o lanche do “Professor”. Era uma maravilha, claro que eu fazia isto com satisfação, mas, precisava me certificar da qualidade do lanche. Tirava o meu pequeno quinhão e levava para o “Professor” o seu bem-vindo jantar.
A nossa amizade de trinta anos, Josias, a quem chamo fraternalmente de “Jô” e que me trata por “Guida”, também se estende a Tide, a cada dia se torna mais firme porque foi construída dentro da sinceridade, cujo interesse único é o sucesso e a realização profissional do outro. E isto porque partimos de um mesmo compromisso com a Educação, com aqueles que esperam de nós e sempre procurando devolver à sociedade o que ela contribuiu para sermos o que hoje somos!