Mariana  & Tapacurá

São chocantes as imagens das cercanias da cidade histórica de Mariana, em Minas Gerais. Veículos em cima de casas, lama tóxica invadindo e destruindo tudo com uma força amedrontadora! Cenas dignas dos filmes de catástrofes e o pior, não eram ficção! Os tranquilos subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (deste só restou a Igreja onde são visíveis as marcas da lama nas paredes externas), cada um com cerca de 200 casas e 600 habitantes, foram totalmente arrasados deixando um saldo de desaparecidos expressivo. Tudo foi levado: vidas e bens, pela força dos resíduos da mineração e acumulados em barragens que se romperam. Isto mostra mais uma vulnerabilidade que a população está submetida sem explicações para as causas do desastre. Questões são tardiamente levantadas: por que se romperam as barragens? A população foi avisada adequadamente? Houve avisos sonoros? Pelo menos que as respostas sirvam para a prevenção de futuros acidentes.

Estes fatos me trouxeram à memória a manhã do dia 21 de julho de 1975, há exatos 40 anos: Tapacurá estourou! Foi o grito que levou o Recife a um pânico coletivo. A população fragilizada pela grande enchente de 17 a 18, três dias antes, onde cerca de 80% da cidade ficou tomada pelas águas, em alguns locais em nível muito alto, com mais de 60 mil desabrigados e de 100 mortos, só poderia cair no desespero ante a iminência de uma tragédia desconhecida. As enchentes, mesmo terríveis, já eram conhecidas, mas a onda gigante que viria com a força do rompimento da barragem do Tapacurá, destruiria o Recife e chegaria arrastando tudo o que estivesse no vale do Capibaribe. Nada mais humano e compreensível do que o desespero do povo, e nada mais desumano e cruel do que a criação de um boato como este.  Trabalhava na equipe do Secretário Joaquim Francisco (Trabalho e Ação Social), e na hora estava na CODECIPE, presidida por Josias Albuquerque. Nós mesmos não sabíamos o que estava acontecendo, as informações pareciam verídicas! Só nos tranquilizamos quando Josias, num helicóptero da Aeronáutica, sobrevoou a barragem e avisou que nada havia ocorrido. O que terá sido?  Um mal entendido? Uma brincadeira de péssimo gosto? Até hoje, pelo menos para mim, sem explicação. Sei apenas que morreram quase tantas pessoas como na enchente e ficaram marcas indeléveis nos recifenses que viveram o desespero daqueles momentos. 


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