O caso do navio Santa Maria

O Recife, com sua vocação portuária, sempre esteve na rota dos navios, tanto para transporte de cargas como de passageiros. No século passado, era muito comum as famílias viajarem de “vapor”, como se dizia, especialmente para o Rio de Janeiro. Claro que não cheguei a viajar nos “Ita”, inclusive um deles foi torpedeado durante a 2ª Guerra Mundial nas costas de Sergipe. Mas, lembro-me bem dos quatro “paquetes” brasileiros que faziam a nossa costa indo até Buenos Aires, e que passavam pelo Recife: Princesa Leopoldina, Princesa Isabel (fui passageira), Ana Nery e Rosa da Fonseca. Na mesma época, também aportavam aqui, indo ou vindo da Europa, o navio inglês Alcântara e os portugueses: Vera Cruz (preferido dos meus pais) e Santa Maria.

Atualmente no verão, param imensos transatlânticos com milhares de turistas que passam apenas algumas horas na nossa cidade e logo zarpam dando continuidade aos seus “cruzeiros” tão em voga.

No final de janeiro de 1961, o noticiário dos jornais e das emissoras de rádio dava conta de que o navio Santa Maria havia sido apresado no Caribe por rebeldes contrários ao governo de Portugal desviando-o da sua rota, com mais de oitocentas pessoas a bordo, entre passageiros de várias nacionalidades e tripulantes. O inusitado da situação moveu governos e a imprensa internacional para acompanhar a ousada aventura. Depois de muitas peripécias, o navio veio bater nas costas do Brasil e, após a posse do Presidente Jânio Quadros, entrou em águas brasileiras chegando ao porto do Recife. Aqui se assistiu o epílogo do episódio com o desembarque de todos e a concessão de asilo, pelo governo brasileiro, aos revoltosos.

Vi, do alto do Ed. Santalice, na rua da Aurora, o Santa Maria entrando no Porto do Recife no dia 2 de fevereiro, quase ao meio dia. A imagem daquele grande navio branco se aproximando, ficou para mim inesquecível, e sempre me recordava do fato quando, da janela do meu gabinete no Cais do Apolo, via os transatlânticos de hoje entrando na Barra.

O livro “Ultimo Porto de Henrique Galvão”, de Ana Maria César, fruto de exaustiva pesquisa e escrito de maneira primorosa, é uma excelente fonte sobre fatos da História recente e que estavam adormecidos na memória de muitos. O tema daria um ótimo filme.


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