As notícias internacionais nos surpreendem a todo instante. De repente aparece um lugar, uma região, uma cidade, um grupo político ou uma pessoa que poucos terão ouvido falar antes, e, da mesma forma, deixam os noticiários quase sem rastros. Foi assim que apareceu Kosovo, Ocetia do Sul (não se sabia nem que havia uma, quanto mais duas do norte e do sul). Recentemente, no caso da Criméia, há destaque para a sua capital, Sinferopol (conhecia-se, pela História e pela literatura, apenas Sebastopol). Antes do “11 de setembro” eram desconhecidos os Talibas, Al- Kaeda e mesmo Bin-Laden.
Agora a Nigéria volta ao cenário internacional e, igualmente, de forma trágica. Exatamente há 47 anos (30 de maio de 1967) se iniciava a Guerra de Biafra. Sete anos após a independência, uma das tribos mais importantes Igbós ou Ibós que compunha a população do novo país, lançou-se num movimento separatista, na região sudeste, e proclamou a própria independência – República de Biafra. Por quase três anos, o mundo tomava conhecimento de uma guerra cuja arma principal era a fome. Morreram de fome centenas de milhares de pessoas. As fotos publicadas de crianças e mesmo adultos desnutridos clamavam aos céus. Alguns Estados atuaram oferecendo ajuda humanitária, como Portugal, França e o Vaticano, além das Organizações Não Governamentais. A palavra Biafra passou para o vocabulário coloquial como sinônimo de miséria, magrém e fome. Da minha geração, ninguém se esqueceu!
Como se não bastasse, aparece o Boko Haram, movimento fundamentalista islâmico que atua principalmente no norte do país. De uma maneira absurda, pratica atos inconcebíveis como ocorreu há dois meses com a abdução de mais de 200 adolescentes de uma escola pelo fato de não tolerar que mulheres recebam educação. Não é isto o que ensina o Corão. O Governo nigeriano, todavia, não enfrenta as gravíssimas violações dos Direitos Humanos. O assunto só chegou ao conhecimento público pela voz das mães que reclamavam por suas filhas! O celerado líder do tal Movimento exibe pela televisão um vídeo com a imagem das jovens e anuncia que quer vendê-las como escravas ou trocá-las por prisioneiros do seu grupo! O Governo não aceita negociar.
Alguns países oferecem ajuda para localizá-las, como Estados Unidos e China. Mulheres em Paris e noutras cidades têm saído às ruas pedindo providências. Espera- se das mulheres que exercem a chefia do poder (presidentas que fazem questão de usar o título no feminino) mais ênfase na defesa dessas jovens abandonadas à própria sorte. É risível a afirmação de que não se sabe onde estão.
Elevo o meu pensamento para o sofrimento dessas adolescentes; junto a minha voz à das mães nigerianas, como devem fazer todas as mulheres do mundo, para clamarmos, como elas, o mais alto que pudermos: “tragam nossas meninas de volta”!