A atitude da voluntária AIC frente aos conflitos humanos e sociais

XXI ENCONTRO NACIONAL AIC-BRASIL

ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE CARIDADES REGIONAL IV-PE

DATA: 24 DE AGOSTO DE 2005 – GRAVATÁ – PERNAMBUCO

TEMA: “A ATITUDE DA VOLUNTÁRIA AIC FRENTE AOS CONFLITOS HUMANOS E SOCIAIS”

PALAVRAS DE: MARGARIDA CANTARELLI

Senhoras, Senhores,

Foi com imensa satisfação que recebi o amável convite da minha velha amiga Vilma Motta para participar deste XXI Encontro Nacional AIC-Brasil. Aceitei-o, de imediato, e agradeço-lhe a especial oportunidade de compartilhar  deste momento tão importante para todos nós. Encanta-me estar diante deste auditório integrado por mulheres de todo o Brasil, e que pertencem a uma insigne Instituição com 388 anos de existência, confiada unicamente a elas, que se espalhou pelo mundo inteiro, sem perder suas características essenciais, porque está fincada solidamente nos ensinamentos de São Vicente de Paulo, calcados no maior de todos os sentimentos humanos que é o amor.

Permitam-me, portanto, que as trate, fraternalmente, por JARDINEIRAS DO AMOR. É isto que vocês são. Revolvem a terra do sofrimento, da pobreza, da opressão humana, e semeiam a solidariedade, a fraternidade e o bem, transformadores das pessoas. Nesses canteiros, permitem germinar a dignidade, a cidadania e a liberdade de cada um dos seus assistidos. Estas são as flores da verdadeira promoção do ser humano.

Assim, queridas Jardineiras do Amor, lembram-se que “amar é sentir-se responsável”?

Sabia que seria difícil para mim falar-lhes ao final, após as palavras competentes e pertinentes dos Professores João Luiz Correia e Antônio Benjamin de A Neto, que certamente esgotariam o tema. Sou apenas uma magistrada que também lida no dia-a-dia com a miséria humana, que algumas vezes ao julgar, tem o remédio para sara-las. Mas noutras tantas também sofre com elas ante as dificuldades de um poder que precisa de reformas e as durezas de leis distantes da realidade social. Mas, a ousadia sempre foi uma característica minha, assim, estou aqui, pois se nada lhes acrescentar, pelo menos compartilharemos juntas dos mesmos anseios de construção de um mundo melhor. 

O tema central deste Encontro, é extremamente feliz: Ação da Voluntária AIC na construção da paz: a relação mulher e pobreza. E especificamente nos coube o enfoque da “atitude da voluntária AIC frente aos conflitos humanos e sociais”.

Gostaria de ressaltar, por primeiro, a importância do voluntariado. Vejo-o como uma imensa doação de si, através de um compromisso livre e espontâneo consigo mesma e com o próximo. Especialmente num mundo que se fez globalizado – pela tecnologia da comunicação, da informação, pela economia internacional e outras tantas amálgamas, mas que paradoxalmente fez crescer um egoísmo desmesurado, uma competitividade malsã, um individualismo que hermetiza  por receio de violência ou por medo da própria sombra.

                 E maior se torna o voluntariado quando associativo, que soma os esforços, que tem diretrizes comuns, que busca atingir os objetivos consagrados pelas regras fundadoras e consolidados pela experiência de muitos, por tanto tempo. “Contra a pobreza, agir juntos”, foi isto que nos ensinou o fundador.

E quais são as pobrezas do mundo de hoje? Além da miséria material e espiritual de sempre, acrescem os outros flagelos a que me referia a pouco, do individualismo exacerbado, das incompreensões domésticas que chegam às raias de uma brutal violência. Em termos de povos, não são menores as incompreensões, as guerras povoam os quadrantes da terra e invadem as nossas casas, aconteçam elas onde acontecerem, mas almoçam, jantam e às vezes até dormem conosco pelos tele-jornais cuja tecnologia da informação que encurtou o tempo e as distâncias, mas em nada minorou o sofrimento humano. O desrespeito aos direitos fundamentais flagrados a cada instante: à vida, à saúde, à liberdade e tantos mais, em razão de políticas públicas pouco comprometidas com os resultados alardeados. Este é o cenário que a voluntária AIC se depara a cada dia.

Não quero com este retrato em mal traçadas linhas cinzas, levar-lhes um sentimento pessimista do panorama social, quer internacional, quer nacional, até porque sou uma otimista por natureza. Acredito e jamais perderei a crença nos seres humanos. E Encontros como este me reoxigenam  a alma de esperanças porque aqui está um grupo de mulheres obstinadas no amor. E “o amor é inventivo até o infinito”.

Os caminhos para fazer frente aos conflitos humanos e sociais, são os que buscam a promoção humana os mesmos que há séculos vocês trilham, quer nas relações interpessoais, quer por grupos. Os instrumentos para remover os obstáculos estão na própria sociedade e se encontram na soma de esforços, na conjugação de compromissos e vontades, do poder público, das instituições privadas, de cada um individualmente e de todos juntos. Embora com a consciência de que “é um processo jamais terminado”!

Os objetivos de São Vicente permanecem atuais, não envelheceram na sua essência porque a caridade não envelhece jamais posto que o amor ao ser humano  é permanente e eterno.

Queridas Jardineiras do Amor,

                   Nesta aprazível cidade de Gravatá, fincada no agreste pernambucano, se comprova que é possível de um solo predegoso e seco, onde os cactos e as bromeliáceas eram as plantas principais, transformar-se em pólo de desenvolvimento, pelas mãos criativas dos artesãos, pelo empreendorismo turístico e empresarial de alguns visionários, pela riqueza cultural e, sobretudo, pelo exemplo que nos dá o seu povo de coragem que alavanca a vencer as adversidades. 

                       Como pernambucana, sinto-me feliz que todas vocês tirem os melhores proveitos pessoais destes dias entre nós, saboreiem os morangos, as pinhas e as graviolas; a carne-de-sol, o queijo de coalha ou de manteiga; as cocadas, a canjica e o pé de moleque; ouçam o xote e o baião, e se possível dancem livremente um bom forró pé de serra, porque também é nesses momentos de integração na cultura de uma região que sentimos através de algumas diferenças que não nos separam e mais nos complementam, que somos todos irmãos, filhos de um rico, imenso, uno e querido Brasil.

Obrigada pelo convite e pela atenção.


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