Título de cidadã Itabaiana

TÍTULO DE CIDADÃ DE ITABAIANA – SERGIPE

ITABAIANA, 13 DE MARÇO DE 2009.

PALAVRAS DE: MARGARIDA CANTARELLI

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Itabaiana, Heleno Tavares da Mota,

Senhores vereadores,

Senhor Prefeito,

É uma especial satisfação estar, mais uma vez, pisando em solo itabaianense, cercada de pessoas queridas, colegas e amigos diletos, para esta solenidade tão cheia de significado para mim. E começo pelos agradecimentos porque entendo que a gratidão é um sentimento que deve ser cultivado e também externado. Assim, agradeço pela imensa generosidade ao povo sergipano e, nesta hora, especialmente, ao de Itabaiana que me têm proporcionado contínuos gestos de apreço. 

Agradeço aos que vieram de longe, e que me trouxeram, aos amigos João Carlos Paes Mendonça e Auxiliadora, esta itabaianense de nascimento e que me disse um dia: “é muito bom nascer em Itabaiana”. E pudera não ser, neta, pelo lado materno de Esperidião Noronha, empresário, político, deputado, e músico exímio que era capaz de ouvir uma peça em Aracaju e transportá-la exatamente para uma partitura a ser executada pela orquestra da terra. E, pelo lado paterno, neta de Miguel Alves Teixeira – Teixeirinha, mestre da arte da fotografia, muitas delas ilustrando os livros do colega Vladimir Carvalho. Imagens e palavras que se juntam para exaltar a República Velha de Itabaiana.   

                    Não poderia deixar de agradecer ao amigo daqui de Sergipe, devotado empreendedor deste torrão, senador Albano Franco. Aos colegas e amigos da Justiça Federal da 5a Região, permita-me desembargador José Baptista, que cumprimente a todos na pessoa do itabaianense Vladimir Carvalho e do meu irmão afetivo Carlos Rebelo. 

                   Aos amigos que também vieram especialmente do Recife, Desembargador Fausto Freitas e Valéria e ao advogado Marcos Freire, com muito apreço.

Quero expressar, sobremodo, a minha eterna gratidão a esta Câmara Municipal, na pessoa do Senhor Presidente, extensiva a todos os Vereadores desta Casa pela concessão do título de cidadã. Este título tem um valor muito peculiar, diferentemente de todos os que já me outorgaram, pois sinto agora não a entrega de uma cidadania nova, mas a ratificação de algo que já existia em mim, desde muito, por canais vivos do sangue ancestral. Eu nasci também cidadã de Itabaiana por herança da minha Mãe! 

                      Este momento faz crescer na minha mente um sentimento de retorno ao passado, e, na tentativa de dar asas à imaginação vôo a um tempo, já muito remoto, há mais de cento e sessenta e oito anos atrás, quando Itabaiana ainda era uma vila.

Assim, consigo divisar no púlpito da Igreja a figura do Padre Felix Barreto que dirigia os destinos da Freguesia de Santo Antonio e Almas. É na figura do vigário que encontro o meu tio-trisavô!  

Mas, a emoção maior vai ficar por conta do irmão do padre Felix Barreto, Antonio Diniz Barreto, que é o meu trisavô, morador da vila de Itabaiana desde o ano de 1841. Este, encontro em frente à sua lousa, dando  aulas como professor de Latim. Natural da vila de Capela, da então Província de Sergipe, filho de outro Antonio Diniz Barreto, coronel da Guarda Nacional. Aqui constituiu família, casando-se com Mariana Joaquina de São José Barreto, nascendo dessa união o meu bisavô, José Diniz Barreto, em 18 de maio de 1845.

Sob a influência do tio, o padre Felix Barreto, já professor da Faculdade de Direito, sai José Diniz Barreto para o Recife, obtendo o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1870, tornando-se também professor de Direito Romano, naquele templo que viria a ser conhecido com o nome de outro sergipano: a “Casa de Tobias Barreto”.

A outorga do título de cidadã itabaianense, cento e sessenta e oito anos depois da chegada do meu trisavô a esta terra, mexe com a história dos meus avoengos, unindo Capela, Itabaiana e o Recife, numa tríplice aliança de devoção, de amor e hoje, também, de muita saudade.

Foi no Recife que Jose Diniz Barreto casou-se com Felipa Peregrino Cavalcanti, nascendo Margarida, a minha avó de quem herdei o nome, mãe de minha mãe, Dulce.

Portanto, aqui em Itabaiana não estou chegando, estou de volta, trazendo na alma um sentimento de identificação profunda com esta terra. Voltei, voltei sim, “porque ninguém se perde no caminho da volta” (José Américo), e coube-me, como uma saga, aqui plantar a primeira Vara da Justiça Federal que interiorizei durante a minha gestão na Presidência do TRF.

A emoção aumenta ao lembrar que o colega e amigo Desembargador José Baptista de Almeida Filho – ora também homenageado por esta Casa, teve o discernimento de dar continuidade e concluir as obras do Fórum da Justiça Federal Vladimir Carvalho que hoje será inaugurado, concretizando um sonho, que não tive tempo de realizar, mas que, por suas mãos, sinto-me plenamente confortada.

Voltei para a Caatinga de Ayres da Rocha; para a freguesia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana; para procurar o Santo Antônio Fujão e encontrá-lo entre os galhos de uma quixabeira; para ver a feira indo atrás da sua inigualável farinha; para dançar a “Chegança” ou o “Reisado”, para a “Festa do Mastro”, tão cheias das mais puras raízes luso-brasileiras.

Voltei para a cidade não só dos caminhões, em razão do seu comércio; mas da cultura, da música, ouvindo do século XVIII, o Padre Francisco da Silva Lobo; e do XIX, Samuel Pereira de Almeida Filho com a sua Orquestra Filarmônica Eufrasina, depois N.S. da Conceição.

Voltei para ver uma Itabaiana, capital da região centro-oeste, com duas Universidades, cheia de estudantes daqui e vindos dos municípios lindeiros. Voltei, voltei sim, para escrever o que ensinava o meu bisavô José Diniz Barreto, aquele professor de Direito Romano da Faculdade de Direito do Recife, na lousa do seu pai, o velho professor de latim, uma lição que sigo como lema de vida e de profissão e do qual não me afasto: Juris praecepta sunt haec honeste vivere, alterum non laedere suum cuique tribuere – os preceitos do direito são: viver honestamente, não lesar terceiros e dar a cada um o que é seu. 

Obrigada, senhores Vereadores, obrigada amigos, pela profunda emoção desta hora.


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