Aracaju, 19 de outubro de 2018
Palavras de: Margarida Cantarelli
Senhor Presidente do TRF 5ª Região, Desembargador e amigo Manoel Erhardt
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Senhoras, Senhores,
Ninguém se perde no caminho da volta – porque voltar é uma forma de renascer! Disse o paraibano José Américo. Há nessa frase duas verdades: a primeira: ninguém se perde no caminho da volta, mas é a segunda que encerra a mais importante: porque voltar é uma forma de renascer!
E é assim que me sinto – renascida! Mesmo que não tivessem anunciado, na primeira hora de hoje, ao descer os degraus do avião, saberia que tinha voltado a Sergipe. Sentia-me e me sinto muito feliz, do mesmo modo que em 2004 com “a brisa gostosa batendo no rosto, desalinhando os cabelos; mas, sobretudo, feliz por reencontrar amigos – tantos amigos, e ser enlaçada pelo calor humano do seu bem-querer. Feliz por pisar este solo que me adotou como filha e é assim como eu me sinto aqui – terra também dos meus ancestrais – Capela, Itabaiana, Aracaju”.
Eis que me veio “aquela pergunta sussurro – se é renascer, o verbo é mesmo voltar? Não, não é. O verbo é chegar e eu chego de mansinho como se entra na própria casa, sem bater à porta, sem pedir licença, para ir reencontrando devagar cada cantinho, cada perfume, cada cheiro, cada rosto risonho e acolhedor, cada bater de coração amigo”.
Catorze anos são passados daquele 11 de novembro de 2004 quando abrimos as portas deste prédio ao abrigo daqueles que buscavam a Justiça como o último bastião de esperança e de confiança de ver seu direito reconhecido! E agora, olhando para trás, Desembargador Carlos Rebelo, vemos que Deus nos enviou, pelas mãos do então Reitor da UFS, Professor José Fernandes de Lima, o espaço que precisávamos e que outros nos negaram. Muito maior foi o número dos que nos apoiaram!
Naquela oportunidade eu afirmei que não se pode admitir uma sociedade livre, um Estado democrático e de Direito em que os cidadãos não tenham garantido o acesso à Justiça, especialmente aqueles mais necessitados. Não há garantia aos Direitos Humanos Fundamentais sem que uma pessoa – pobre ou rica, calçada ou descalça, idosa, inválida, portadora de atenção especial, qualquer uma, não encontre na Casa da Justiça o acolhimento digno, o exame cuidadoso e célere do seu pedido, da sua causa e do seu direito. Justiça é também símbolo, não de paternalismo casuísta, mas de igualdade de oportunidades, como respeito ao cidadão. Ao assim proceder, não estamos fazendo favores, mas cumprindo o nosso dever constitucional e ético”.
Sempre penso, dizia eu, que da mesma maneira que as pessoas, os países, as instituições e até os prédios parecem ter um destino – não por fatalismo, mas um destino construído pela livre vontade de cada um ou de muitos, somada a alguma dose de coincidências. Este prédio nasceu com um destino social, servir ao povo. Abrigou o Atheneu Sergipano, de tantas tradições no ensino desta terra. Serviu de sede ao Museu do Homem Sergipano, guardando a memória de um povo. Até que chegou à Seção Judiciária de Sergipe para sediar os Juizados Especiais.
Catorze anos são passados e as marcas do tempo e do uso, exigiram uma recuperação. E foi o que zelosa e competentemente promoveu o Diretor do Foro, Marco Antonio Garapa de Carvalho. Quando a juíza Joana Carolina me telefonou sobre este ato, transmitindo-me o convite para estar aqui nesta hora, foi imensa a minha satisfação. Imediatamente, exultando, lhe disse: claro que irei.
Devo repetir-lhes que ver o próprio nome encimando uma instituição a qual você pertence (permita-me senhor Presidente que use o verbo no presente), é uma sensação indescritível. Aceitei, naquela epóca, a homenagem, menos por vaidade, e mais pela sinceridade e carinho dos que a propuseram. Aceitei a homenagem, como uma forma de, mesmo quando estivesse distante, continuar sempre perto de vocês e em Sergipe. É como se transferisse um pedaço da alma, como se um filho fosse, para dar uma vida real a esse prédio. E vivo ele está, no “entra e sai” das pessoas, na atuação dos servidores, nas decisões dos juízes. Vivo permanecerá, cada vez que alguém tiver reconhecido um direito que lhe fora negado. Vivo continuará, enquanto servir de abrigo aos pobres, aos carentes, a todos os que têm fome e sede de justiça.
Portanto, amigos, só me resta agradecer por me permitirem que continue sempre em Sergipe e com todos os que compõem a Justiça Federal. E guarde comigo as lembranças do afeto que me dedicaram e me dedicam porque a distância e o tempo não apagam os gestos de generosidade. Serei sempre muito grata a todos.