CÂMARA BRASIL – PORTUGAL – PERNAMBUCO
Margarida Cantarelli
As relações de Portugal com Pernambuco são tão antigas quanto nossa terra tem de presença no cenário do Brasil. Desde a Capitania próspera dos primeiros séculos até os dias atuais, não podemos afirmar que as relações foram sempre amistosas, pacíficas. A História está cheia de fatos que mostram a determinação e o irredentismo do nosso povo, mas o tempo, que é o senhor da razão, se encarregou de aplainas as diferenças e fortalecer os laços de amizade. Assim, constatamos que há muitas Instituições mais que centenárias que comprovam a sua interação na sociedade pernambucana, a tal ponto que nem se percebe a sua raiz. São provas, apenas para lembrar algumas, o Real Hospital Português e o Gabinete Português de Leitura. Portanto, não surpreende que a Câmara Brasil Portugal de Pernambuco esteja, exatamente neste ano de 2012, completando o seu centenário de fundação.
O gosto pelos produtos portugueses foi completamente absorvido por nossa população. Se no passado se cingiam à própria comunidade portuguesa local e a uma elite mais requintada no paladar – os vinhos, o bacalhau, o azeite, as azeitonas, por exemplo, hoje estão nas mesas e são apreciados por todos. A verdade é que houve uma ampliação do mercado decorrente de várias causas, como o crescimento da população, a elevação do nível econômico de algumas classes, a divulgação dos produtos e sua maneira de utilizá-los, estes últimos decorrentes até mesmo da abertura do mundo da informação.
No Recife da minha infância, muitos dos estabelecimentos comerciais eram de portugueses e, em alguns setores, hegemônicos. Lembro-me, à guisa de recordação, de acompanhar a minha mãe às compras na Phoenix (uma espécie da Casa dos Frios de hoje) onde ela adquiria produtos portugueses que suas mãos de fada logo transformavam em delícias para a família. Confesso que eu esperava, ansiosamente, a hora que ela escolhia os chocolates (não sei de que procedência), especialmente um em pó, meio amargo, que virava uma inesquecível e saborosa “papa de cacau” destinada às crianças. Íamos ao Armazém Caxias – Alves & Brito, na rua do mesmo nome, depois transformado no primeiro Magazine da cidade – Magazine Caxias, com vários andares, localizado na Rua Nova esquina com a Dantas Barreto. Um palácio da moda!
Na gastronomia, impossível deixar, na hora das recordações, de mencionar dois antigos restaurantes, freqüentado também aos domingos pelas famílias do Recife – “O Casimiro” e o “Galo d’Ouro”, na Camboa do Carmo, este último sobreviveu até pouco em outro local. Mais a tradição continua indiscutível com a família Dias, e, por serem tantos, mencionarei apenas o mais antigo e também centenário “Restaurante Leite”, insuperável em estilo e qualidade, sob a regência do grande empreendedor Armênio Diogo.
A importância do ressurgimento da Câmara Brasil Portugal de Pernambuco é inquestionável para estreitar laços e abrir novos espaços de negócios. O turismo, por exemplo, é um nicho que poderá ser muito ampliado, somos complementares, com a nossa natureza tropical, mas somos também muito próximos no barroco das igrejas que agasalham a nossa fé.
Os vínculos Portugal – Pernambuco permanecerão sempre, quer os ventos soprem de lá para cá ou de cá para lá sobre este mar imenso que nos une e não nos separar, como nos versos de Fernando Pessoa, só é preciso manter as velas sempre abertas.