Este mês de abril marca os trinta anos do início da Guerra das Malvinas, em razão da invasão argentina ao arquipélago também chamado de Falklands. O tema volta aos noticiários não apenas pela data, mas pelos pronunciamentos da Presidente Cristina Kirshiner anunciando medidas restritivas ao relacionamento de empresas com o arquipélago. Todos sabemos como terminou o conflito e o saldo de mortos, dos dois lados, foi muito alto, deixando uma sensação da crueza das guerras.
Mas, sempre em episódios históricos há fatos pitorescos que não chegam ao conhecimento do público. Lembro-me da Semana Santa de 1982, exatamente a Sexta Feira da Paixão. Estava tranquilamente saboreando o meu feijão de coco quando toca o telefone da minha residência. Era Augusto Rodrigues, Chefe do Cerimonial do Governo, para comunicar (era eu Secretária da Casa Civil), que o Consulado Americano informara que dentro de pouco tempo (talvez uma ou duas horas) pousaria para reabastecimento no velho Aeroporto dos Guararapes o avião presidencial norte-americano trazendo o então Secretário de Estado Alexander Haig e comitiva vindos de Londres com destino a Buenos Aires, para negociações sobre a Guerra das Malvinas. Era preciso avisar imediatamente ao Governador Marco Maciel, ao Secretário de Imprensa Ângelo Castelo Branco e algumas poucas autoridades, pois a Aeronáutica já havia sido contatada diretamente por Brasília.
Só deu tempo para o nosso deslocamento até o aeroporto. Logo desembarca o Secretário Haig acompanhado do famoso General Wernon Walter que falava português fluentemente. A notícia vazara e do lado de fora do aeroporto muitos jornalistas desejavam entrevistar Haig. Mas a ordem recebida pela Aeronáutica era de proibir o acesso da imprensa às dependências do aeroporto, mesmo tendo o Secretário de Estado concordado com a entrevista.
Gerou-se o impasse. De repente surgiu uma idéia de colocar os carros em posição de deslocamento e sairmos todos rapidamente do aeroporto em direção à praia de Boa Viagem, levando, inclusive, o Secretário Alexander Haig, o General Wernon Walter e alguns membros da comitiva. Fora do aeroporto, o Secretário poderia falar livremente.
Parou-se numa das barraquinhas. Entrevista simpaticamente concedida pelo Haig ao lado do Governador Marco Maciel, muitas fotos, água de coco e, da mesma maneira, retornamos para o aeroporto de onde a comitiva partiria em poucos minutos. Assim, as normas militares não foram desrespeitadas e o contato com a imprensa ocorreu sem problemas.
Eis que ao sair do aeroporto me ocorreu perguntar a Augusto Rodrigues se os cocos tinham sido pagos. Resposta negativa. Então voltamos lentamente pela avenida procurando algum detalhe de nos levasse à mesma barraca. Lembrei-me que havia uma pedra larga na calçada que me servira como apoio. Finalmente encontramos, saltamos e perguntamos ao barraqueiro o que havia ocorrido ali. Respondeu-nos, com simplicidade, que nada entendeu, um bocado de gente chegou lá, muitos gringos, um deles se assustou com o seu facão, tomaram seus cocos e foram embora. E quantos cocos foram? Perguntei. Disse-nos uma quantidade razoável, pagamos tudo e saímos sem nos identificar.
No dia seguinte, os jornais do mundo inteiro publicaram a foto de Alexander Haig tomando água de coco.