Centenário do Colégio Israelita

Centenário do Colégio Israelita

Margarida Cantarelli

22.9.2018

Em março deste ano, iniciaram-se as comemorações do Centenário da Educação Judaica em Pernambuco – os 100 anos do Colégio Israelita. A Academia Pernambucana de Letras teve a grande satisfação de ser o palco de tão importante evento.

            Quando os imigrantes que aqui chegaram no início do século XX incluíram um Colégio entre as instituições que criavam nesta cidade, tinham a consciência de que o pilar da educação teria um papel relevante na consolidação da Comunidade, na preservação da cultura e na preparação da juventude para viver num mundo novo da melhor forma. 

            Olhando para os 100 anos dessa jornada, constata-se que o Colégio Israelita cumpriu muito bem o seu papel.

Mas, há outros pontos que entendo positivos resultantes das comemorações. Se falávamos no início na “saudade” que enfatizavam os membros da comunidades e ex-alunos do Colégio residentes fora de Pernambuco, hoje falamos em “dupla saudade”, porque acrescenta-se a saudade da própria comemoração. Vi como tantos vivenciaram os mais diversos eventos festivos, com emoção, carinho e alegria pelo encontro ou reencontro. Vi a dedicação dos organizadores para proporcionar que a chama acesa da convivência no Colégio continue cada dia mais brilhante e mais calorosa. Estão todos de parabéns. Como se diz em Portugal: muitos parabéns!

Sendo esta Casa – uma Casa das Letras, não poderia concluir sem prestar uma especial reverência a três escritores que em Pernambuco passaram parte de sua vida, contribuíram para a história e a literatura, associando o seu nome ao nosso destino cultural comum. Um, com vínculos muito antigos, que remontam ao século XVI, entre as letras judaicas e Pernambuco. Penso, em primeiro lugar, por ordem cronológica, em Bento Teixeira, o autor da Prosopopeia, vasto poema épico, muito influenciado por Camões, dedicado a Jorge de Albuquerque Coelho, Capitão e Governador de Pernambuco.  A extensa epopeia foi publicada em Lisboa, em 1601, logo no ano seguinte à morte do poeta. O estudo definitivo sobre a sua vida (baseado em metodologia segura de pesquisa das fontes primárias), está representado pelo ensaio de José Antônio Gonsalves de Mello, “Um Intelectual Cristão-Novo: Bento Teixeira”. Este ensaio foi incluído como o capítulo IV do livro do mesmo autor, Cristãos Novos e Judeus em Pernambuco1542-1654 –obra também, ao seu modo, definitiva.  

Sobre a vida do poeta, Gonsalves de Mello se baseia essencialmente em documentos da Inquisição. Denunciações da Bahia, denunciações de Pernambuco, confissões em Pernambuco, e o processo integral, guardado em Lisboa, nos arquivos da Inquisição. 

Um segundo nome, seguindo de perto o texto de Gonsalves de Mello, é o de Isaac Aboab, ou Isaac Aboab da Fonseca, apresentado como “o primeiro rabino e, ao mesmo tempo, primeiro escritor judeu no Novo Mundo”, tendo narrado em versos [hebraicos] os sofrimentos da população judaica do Recife durante o assédio [pelos luso-brasileiros] em 1646. Seu poema se denomina “Fiz um Memorial dos milagres de Deus”.  

Dando um salto de séculos, concluo relembrando Clarice Lispector, ex-aluna do Colégio cuja obra está sempre presente nos estudos desta Academia. E falar sobre ela e sua obra seria mais que uma conferência, um verdadeiro curso de literatura. Seria tão bom ver a casa onde ela morou na Praça Maciel Pinheiro, restaurada e servindo como um centro cultural no importante bairro da Boa Vista.

Mas, amigos, assim os considero – alguns muito próximos, a palavra é de vocês, a mim cabe abraça-los afetuosamente e desejar a permanência desse Colégio dando a contribuição que vem proporcionando por um século a nossa cidade, numa área que sociedade brasileira tanto necessita e clama: educação!


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