Senhor Deus dos desgraçados! 

Dizei-me vós, Senhor Deus, 

Se eu deliro… ou se é verdade 

Tanto horror perante os céus?!… 

(Castro Alves, trecho de “Navio Negreiro”).

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mossoró, Vereador João Newton da Escóssia Júnior.

Demais autoridades integrantes desta Mesa e presentes a esta solenidade,

Senhoras, Senhores,

Um verso de Castro Alves – quem sabe o mais lancinante do Poeta Condoreiro – escolhi para abrir este meu discurso. E não foi sem causa esta eleição; tem ela os seus arremates e as suas justificativas. Falo para um seleto auditório repleto de filhos da Terra da Liberdade, Mossoró. Mas venho do Recife, do torrão onde Castro Alves recolheu-se à sua vivenda da Rua do Lima, quase às margens do Capibaribe, para, entre os intervalos das aulas da mesma Faculdade de Direito onde eu estudei e ensino, gestar as mais belas páginas da poesia nacional, tocado pela dor e pela insubordinação para com a escravatura dos nossos irmãos negros. Tudo tão recifense, tudo tão mossoroense, tudo tão brasileiro. Tudo tão triste, mas tudo tão desafiador…

Assim, os ares do meu Recife levantaram a poesia revolucionária de Castro Alves, bradando pela libertação dos escravos, somando-se à luta de Joaquim Nabuco e de José Mariano. O discurso de todos foi importante, mas não menos meritórios foram os movimentos encetados lá – pelo chamado “Clube do Cupim” e aqui – pela “Sociedade Libertadora Mossoroense”, agrupamentos de homens de rara sensibilidade e destacada coragem cívica,  culminando nestas terras com o célebre episódio de Trinta de Setembro, dia em que JOAQUIM BEZERRA DA COSTA MENDES, após a leitura das cartas de alforria dos últimos cativos deste território, pronunciou emocionado discurso declarando “livre o Município de Mossoró da mancha negra da escravidão”.

E é nesta ambiência de liberdade e rebeldia, que também marcam o meu espírito, que aqui chego, paradoxalmente, cativa e submissa. Cativa da afeição do povo de Mossoró e submissa ao meu dever de bem servir às mulheres e aos homens que por seus representantes escolheram a minha pessoa para ofertar o que de mais sublime existe em uma comunidade: a cidadania e a irmandade. Penso, sem vislumbrar ousadia, que o sentimento que me domina é o mesmo que anima os demais homenageados desta tarde, dos quais sou também porta-voz, por delicadeza de todos. Assim, nas minhas palavras…

…está o agradecimento do Desembargador RAFAEL GODEIRO SOBRINHO, que com a graça de Nossa Senhora dos Impossíveis, que também é a minha protetora, imprimiu ao Poder Judiciário do Rio Grande do Norte o seu estilo patuense de decidir conflitos e de construir amizades;

… está também a gratidão do Doutor AIRTON DE SÁ FERRAZ, pernambucano que espelha a junção dos povos do São Francisco e do Pajeú e que dedicou ao Rio Grande do Norte o seu tino na condução da Superintendência da Polícia Federal e a sua experiência na advocacia;

… igualmente representa o Juiz de Direito FRANCISCO DE ASSIS DE FREITAS AMORIM, quiçá o mais mossoroense dos homenageados, pois aqui sempre viveu, integrado à sociedade local, quer pelos cargos políticos que exerceu, quer pela magistratura que depois veio ter como sacerdócio;

… traz o reconhecimento do Doutor ROBERTO SÉRGIO RIBEIRO, emblematizando o lema da instituição a que serve, a Caixa Econômica Federal, esta minha especial parceira, exemplo positivo de banco social e indispensável ao crescimento da Terra de Santa Luzia;

… agradece pelo Empresário EDILSON HENRIQUES GODEIRO, que trouxe para Mossoró, no entender dos seus munícipes, elemento de importância para o desenvolvimento do parque industrial local;

… e agradece, finalmente, pelo Desembargador DEUSDEDIT CHAVES MAIA, oestano que ancorou em Mossoró longa parte da sua atividade jurisdicional e afetiva, daqui não se desligando nem quando a carreira de magistrado levo-o aos mais destacados cargos do Judiciário Potiguar.

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Senhoras e Senhores. Meus diletos conterrâneos.

Tenho como pauta de vida um atributo que para mim está no rol das imprescindibilidades: a gratidão. Assim, quem sabe em decorrências das missões sociais que recebi do Criador, já fui alvo da consideração e do apreço de pessoas e de instituições. Se a todos sou extremamente grata, mas para algumas reservo um patamar especial de contentamento como se viessem ao encontro de um sentimento interior, de comunhão. É o caso do título de Cidadã Mossoroense. Tenho e terei muito orgulho de ser filha honorária de um Município…

• Que semeou a liberdade sendo pioneiro na libertação dos escravos, marca indelével do caráter de um povo, conforme referi no início da minha oração;

• onde pela primeira vez uma mulher – a Professora CELINA GUIMARÃES – marcou a história do sufragismo brasileiro exercendo o sagrado direito ao voto;

• que celebra o “Motim das Mulheres”, episódio cívico que encantou o Brasil, quando em 04 de setembro de 1875 trezentas mães, sob o comando de ANA FLORIANO, impediram que os seus filhos fossem descaminhados para a controvertida Guerra do Paraguai, rasgando as fichas do posto de alistamento e desfilando pelas ruas desta cidade em convocação para a rebeldia, usando utensílios domésticos contra os repressores da manifestação, em reedição da bravura das Mulheres de Tejucupapo, lá do meu Pernambuco, que puseram a correr os invasores holandeses que desejavam pilhar aquele arraial;

• que é berço de um jornal (O MOSSORENSE), que se perfila entre os quatro mais antigos jornais em circulação no País e o mais antigo do Rio Grande do Norte, perpetuação da obra de JEREMIAS DA ROCHA, chantada a 17 de outubro de 1872. É co-irmão, em tempo e em defesa da liberdade de imprensa, do nosso DIÁRIO DE PERNAMBUCO, que celebrará agora 180 anos de circulação;

• que viu nascer tantas personalidades públicas importantes, como o Senador DIX-HUIT ROSADO, os Deputados Federais VINGT, SANDRA e BETINHO ROSADO e os Governadores RAFAEL FERNANDES, DIX-SEPT ROSADO, JOSÉ AGRIPINO MAIA e da atual Governadora,  VILMA DE FARIA;

• sede da UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE, inspiração de JOÃO BAPTISTA CASCUDO RODRIGUES materializada pela sensibilidade do então Prefeito RAIMUNDO SOARES, talento invulgar da oratória e grande administrador público. Abriu caminho para o ensino universitário no oeste potiguar, advindo instituições como a MATER CHRISTI e a UNP;

• que através da sua Escola Superior de Agronomia, a ESAM, tem formado engenheiros e técnicos para suprir os quadros da tecnologia agrícola do País, orgulhando os nordestinos e tão bem capitaneada pelo Professor JOSIVAM BARBOSA, que abriu as portas da instituição para uma proveitosa parceria com a Justiça Federal, doando o solo onde está sendo erguida a sede definitiva do seu Fórum e que espero poder  inaugurá-la;

• que esparge cultura para o Brasil e o Mundo, através da COLEÇÃO MOSSORENSE, a maior seleta de títulos do Planeta, com quase quatro mil publicações, graças ao labor do Professor VINGT-UM ROSADO;

• templo da educação básica de qualidade, a partir do tradicional COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, há quarenta anos sob a regência do Padre SÁTIRO DANTAS, por cujos bancos foram iniciadas tantas pessoas bem posicionadas na vida, inclusive quatro Governadores do Estado;

• cenário do AUTO DA LIBERDADE, ópera nascida da poesia de CRISPINIANO NETO e levada às ruas numa exaltação ao próprio valor que lhe dá nome;

• lugar que se tornou referência nacional de qualidade de vida, graças à pujança dos seus meios de circulação de riqueza, como o sal, o petróleo, o cimento, o gesso, o turismo, a indústria de transformação e a fruticultura e também graças a um desenvolvimento urbanístico exemplar, produto da arrojada administração da minha amiga Prefeita ROSALBA CIARLINI ROSADO.

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Meus irmãos mossorenses.

A vida nos impõe, na dureza dos cargos que ocupamos, objetividade, racionalidade, decisões firmes que às vezes soam como frieza. Mas, confesso, que nunca abri mão da emoção e das demonstrações de afetividade que em nada diminuem ou toldam os deveres do ofício que exercemos. Por isso peço permissão aos presentes para um transbordamento de sentimentos. Creio que poucos aqui sabem, mas tenho uma história de vínculos – passados, presentes e que se lançam para o futuro, com esta terra e que muito me emocionam. Aqui vim pela primeira vez, há anos, nem vale a pena lembrar a quantos, tão distantes no tempo e tão perto na memória, trazida pela mão de um dos meus familiares mais queridos, o Bispo Dom GENTIL DINIZ BARRETO, santo sacerdote que mandado por Deus para aqui servi-LO, escolheu Mossoró para viver, morrer e permanecer sepultado aos pés de Santa Luzia, na catedral desta cidade. Tenho certeza, que lá do céu onde se encontra estará sempre intercedendo junto ao Criador por todos nós, sobretudo pelos mais fracos e mais necessitados. Aqui realizou inesquecível obra pastoral, com reflexos sociais ainda hoje sentidos. Voltei, conduzida pela saudade daquele querido primo e das primas, suas irmãs (Flora, Felipa – esta tão ligada à minha mãe – e Maria das Vitórias). Mas, voltei também conduzida pela alegria do presente, pelos laços familiares bem mais recentes, ligada à minha sobrinha JULIANA ROSADO DE OLIVEIRA, pelo casamento com o meu sobrinho-filho JÚLIO DE OLIVEIRA, e do futuro pelo carinho das minhas sobrinhas-netas  MARIA LAURA, a inteligente e vaidosa Lálá, e MARIA LUIZA, a minha doce e pequenina Maluzinha, de cabelos tão lisos e olhos orientais.

  E vim para entregar a esta Cidade a Vara da Justiça Federal. Era o que estava ao alcance das minhas mãos no exercício da Presidência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Instalada a 14 de maio do corrente ano, mercê do merecimento da Região – e diga-se devida há muito – e do esforço do senhor Diretor do Foro da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte, Juiz IVAN LIRA DE CARVALHO e da sua operosa equipe capitaneada pela Dra. ISABEL, do nosso primeiro Juiz Federal em Mossoró GEORGE MALMENSTEIN, da senhora Prefeita Dra. ROSALBA CIARLINI, do Diretor da Esam, Prof. JOSIVAN BARBOSA e dos Advogados que aqui militam, estes últimos homenageio nas pessoas de PAULO GAMELEIRA e JOSÉ TARICÍSIO JERÔNIMO.

Tenho, pois, Meus Conterrâneos, inúmeras razões para estar integrada a esta minha nova Cidade. Mas tenho especial sentimento do dever cumprido, orgulho mesmo de estar contribuindo para o desenvolvimento local, com a instalação da prefalada Vara Federal, que vem gerando empregos e aproximando o Poder Judiciário Federal do povo, evitando o transtorno até então existente, quando as partes, as testemunhas e os advogados precisavam vencer distâncias enormes, indo a Natal para buscar a jurisdição que hoje é prestada aqui mesmo. Amanhã, 8 de dezembro, estaremos presenciando a promulgação da tão falada Reforma do Judiciário, mas para mim, reforma do judiciário é antes de tudo esta, levar a justiça para perto dos jurisdicionados, facilitando o acesso daqueles que a buscam.

Senhoras, Senhores,

Com o coração transbordando de gratidão pela concessão do título que me coube por iniciativa do Vereador CLAUDIONOR DOS SANTOS,  e pela generosidade dos seus pares na CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ que o aprovaram, como também pelas gentis palavras do vereador RUBEM BORGES faço profissão de fé que daqui nunca mais ficarei distante.

Que Santa Luzia, agora também minha padroeira, mantenha não só a minha visão física, mas me amplie a visão do espírito para que nunca esmoreça no caminho da realização dos meus compromissos sociais. Que ela estenda a sua proteção sobre todos nós.

Muito obrigada.