Natal – 22 de fevereiro de 2014.
Despedida do Tribunal Regional Federal da 5ª Região
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Natal, Vereador Albert Dickson,
Meu caro colega e amigo Dês. Federal Luís Alberto Gurgel de Faria,
Meus caros amigos Juízes desta S. Judiciária,
Convidados amigos,
Senhoras, senhores,
Venho a Natal trazida pelos ventos da despedida. Despedida da magistratura, da nossa convivência próxima, do trabalhar pela Justiça Federal. Quero dizer que é muito gratificante, uma satisfação imensa poder me reunir com tantos, para um abraço amigo. Por isso devo começar agradecendo por este momento que me toca profundamente, ao Diretor do Foro, juiz Janilson, ao juiz Ivan Lira e a todos da SJ/RN, juízes e servidores.
Lembro-me do já distante dezembro de 1999, quando se falava no “boom do milênio”, com previsões assustadoras em termos de computadores e conseqüências nos mais diversos setores de atividades. Felizmente nada de grave aconteceu.
Assim, assumi no TRF exatamente no dia 9 de dezembro de 1999. Como já me referi em oportunidade anterior, na primeira sessão que participei na 1ª Turma, então composta por Castro Meira e Ubaldo Ataíde, o primeiro processo relatado por Meira era relativo a uma árvore de Natal que havia sido colocada no Morro do Careca. Este processo ficou marcado na minha memória. Toda vez que olho para o Morro do Careca, me lembro da Arvore de Natal. Como para mim é uma paisagem especial, certamente Papai Noel não teria nenhuma dificuldade em encontrá-la porque é um símbolo – beleza entre as belezas desta cidade.
Sempre gostei muito de Natal, desde tempos d’ antanho (não vou dizer quando) e vinha aqui com muita frequência. Fiz muitas amigas, queridíssimas todas, a primeira delas, Margarida Bezerril (depois Seabra de Moura) quando éramos estudantes de Direito e participantes dos movimentos estudantis; Diuda e Madre Alves, unidas que somos pelos laços com as Irmãs Dorotéias; Dorinha Costa, minha dinâmica e irrequieta colega desde quando fazíamos pós-graduação na Holanda; Lourdinha Guerra, minha inseparável companheira na área da Educação – tenho dela uma saudade imensa.
A partir de 1999, através da Justiça Federal só fiz aumentar os amigos aqui: todos vocês e outros que não puderam vir, seus familiares, multiplicando-se cada vez mais e aprofundando as amizades.
Guardo excelentes lembranças dos trabalhos aqui realizados, de modo especial nos dois anos que exerci a presidência da nossa Casa. Sempre grata, ao inestimável apoio do então Diretor do Foro, Ivan Lira, do vice Edilson Nobre e toda a equipe da Sessão Judiciária. Tive o prazer de concluir as obras do Anexo que haviam sido iniciadas por Geraldo Apoliano; de instalar a primeira Vara de Mossoró (contei com a valiosa colaboração da então Prefeita, hoje governadora Rosalba Ciarlini) e a Vara de Caicó, compromisso com o decano Ridalvo Costa e apoiada firmemente pela então governadora Vilma Faria. Também consegui inaugurar o prédio sede da Vara de Mossoró, cujo projeto foi elaborado por Sílvio, engenheiro desta Sessão Judiciária, e que serviu de modelo a vários outros posteriores.
No tempo da Escola da Magistratura realizamos muitos eventos, inclusive um dos Encontros Regionais de Magistrados, quando homenageamos Ridalvo Costa, que à época, como eu hoje, se despedia da magistratura.
Tenho no coração, com muito carinho, os títulos de cidadã de Mossoró, Caicó e do Rio Grande do Norte. Solenidades memoráveis.
Agora, além das despedidas e das lembranças que en passant me referi , acrescentarei às páginas da minha vida uma folha especial, escrita com letras de orgulho e de alegria, para registrar o título de cidadã de Natal que generosamente a Câmara Municipal, por proposta do seu presidente Vereador Alberto Dickson, ora me outorga.
O Rio Grande do Norte, além das amizades, das belezas naturais que me extasiam, também representava para mim, que lutava pela igualdade de direitos das mulheres, uma referência pelos exemplos de pioneirismo das mulheres desta terra: Clara Camarão, Nísia Floresta, Celina Guimarães Viana, Alzira Soriano para ficar em alguns nomes da História, pois muitos outros poderiam ser acrescentados.
E para ficar na História, ressalto que me deixa encantada passar a ser concidadã, conterrânea, de Miguel de Almeida Castro, o Frei Miguel de São Bonifácio – Frei Miguelinho, que nasceu nesta cidade em 17 de setembro de 1768. No Recife, ingressou na ordem Carmelita, passando em 1800 à secularização, por autorização do Papa Pio VII. Idealista, professor do Seminário de Olinda, berço das idéias libertárias e das revoluções da primeira metade do século XIX, em Pernambuco e levadas a Estados vizinhos.
Frei Miguelinho (embora pudesse ser chamado de Padre Miguelinho) participou da Revolução Pernambucana de 1817 ao lado vários padres, como Pe João Ribeiro, Frei Caneca, José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima – o Padre Roma, pai do General Abreu e Lima e meu 6º avô.
Frei Miguelinho e Padre Roma foram ambos fuzilados, na Bahia, no mesmo ano de 1817.
O IAHGP, que tenho a honra de presidir, tem no acervo do seu Museu Histórico, em lugar de destaque, a escrivaninha que pertenceu ao Frei Miguelinho, exibida a todos os visitantes com as devidas explicações sobre o papel de tão importante cultor da liberdade, que por ela entregou a própria vida.
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Natal, amigos e concidadãos,
Quero renovar a todos e a cada um o meu emocionado agradecimento pelos gestos desta linda homenagem e pelas atenções que sempre me dispensaram. Deixo a magistratura pela lei do tempo, mas enquanto houver os meus dias, jamais me afastarei dos amigos – antigos ou mais recentes – e conservarei como um galardão os títulos que aqui recebi. Serei sempre uma cidadã de Mossoró, Caicó e de Natal.
Repetirei agora o que disse ao receber o título de cidadã do Rio Grande do Norte. Não sei cantar, se soubesse entoaria a música que está no coração de todos desta terra e há muito no meu também:
“Praieira dos meus amores
Encanto do meu olhar!
…..
Praieira linda entre as flores
Deste jardim potiguar!”