Flores

Como gosto muito de flores, sempre que possível, procuro viajar na primavera. Mas, quando não coincide, o outono também tem o seu especial encanto, com suas folhas amarelo avermelhadas. 

Um dos países associados imediatamente às flores é a Holanda, onde estudei e visito com bastante freqüência. Se alguém pensa na Holanda, imagina os moinhos, os tamancos, mas jamais deixará de pensar nas tulipas. Interessante que por lá até as flores seguem uma certa ordem. No início da primavera aparecem os narcisos, amarelos em diferentes tonalidades até quase o branco. Depois vêm os jacintos, entre o azul e o lilás, exalando um forte e maravilhoso perfume. Seguem-se as tulipas e já em maio surgem as rosas, também muito variadas e encantadoras.

Mas é sobre as tulipas que gostaria de sugerir aos que forem à  Holanda entre 20 de março e 18 de maio, especialmente em abril, que não deixem de ir ao Parque Keukenhof. Fica perto de Lisse e não é difícil chegar lá. A Holanda é um país territorialmente pequeno e tem ótimos meios de transporte. Keukenhof existe há mais de 60 anos e ali poderão ser vistos canteiros e canteiros de tulipas em todas as cores, inclusive a tulipa negra. Numa das vezes que estive no Parque encontrei uma chamada Recife. Além das tulipas, que por si já valem a visita, há as exposições especiais com outras flores (orquídeas, lírios, etc.).

Os saudosistas como eu devem se lembrar da época que a companhia aérea holandesa KLM pousava no Recife (ainda no Ibura) e anualmente trazia tulipas (amarelas e vermelhas)  para um belo baile no Clube Internacional.

Mas, esse gosto pelas flores pode nos levar a cometer alguma gafe. Estava no Porto e fui convidada para um jantar na residência do presidente da Associação dos Amigos do Recife. Achei que deveria levar umas flores para a sua esposa. Fui ao Mercado do Gorjão que ficava perto do meu hotel e onde há diversos boxes de flores. Quando escolhi um arranjo grande e bonito, a vendedora perguntou-me para que eu queria aquelas flores. Fiz que não ouvi e comentei baixinho com uma amiga sobre a curiosidade da senhora. Ela insistiu na pergunta com ênfase o que me obrigou a responder. Qual não foi a minha surpresa quando ela me informou que o arranjo escolhido só se oferecia aos mortos! No Brasil, seria como se chegasse num jantar com uma coroa de flores para a dona da casa! 

Estava na Cidade do México participando de um curso e resolvi num domingo ir ao Santuário de N. S. de Guadalupe, grande devoção do povo mexicano. Quando me dirigia para a Igreja vinha uma procissão dos Professores, Alunos e Funcionários da Universidade Nacional do México, todos levando flores. Estava com uma colega professora da Universidade de Santa Catarina. Ficamos na calçada esperando a procissão passar quando ela resolveu dizer a uma participante que nós duas também éramos professoras no Brasil. Eis que fomos quase arrastadas para o cortejo, deram-nos dois ramalhetes e tivemos que fazer uma imensa caminhada com muitos gladíolos brancos nos braços!

Que todas essas lindas flores sejam oferecidas em memória de Ana Clara, aquela menina de seis anos que teve sua vida ceifada pela violência sem par nas ruas de uma cidade brasileira.


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