Os hotéis são indispensáveis nas viagens. Na maioria dos casos, tudo corre normalmente, sem qualquer fato a destacar. Se nos hospedamos em hotéis de determinadas bandeiras, em qualquer parte do mundo, já sabemos a cor da colcha, o funcionamento do chuveiro, como acender a lâmpada de cabeceira, o café da manhã, tudo praticamente igual. Noutras oportunidades, mesmo em hotéis pertencentes a alguma rede conhecida, temos a sorte ou mesmo o privilégio na localização. Um hotel da cadeia Raddison, em Paris, bem pertinho da Galeria Lafayette ou um Sheraton em Dubbai, avistando-se do apartamento o edifício mais alto do mundo, é um achado. Mas, às vezes acontece algo completamente inesperado.
Alugamos um carro em Portugal, minha amiga Vera Della Santa e eu, para utilizá-lo durante um mês que passaríamos na Universidade de Coimbra, o que muito facilitaria os deslocamentos, alguns passeios pelos arredores, sem falar que nos pouparia de subir as ladeiras da cidade. Quando tomamos uma das saídas da autoestrada e paramos para o pagamento da portagem (pedágio), perguntei qual seria o melhor caminho para o Hotel Meliá. Respondeu-me o senhor, siga as placas azuis escrito hospital. Retruquei que ia para o Hotel. Confirmou, siga a sinalização de hospital. Sem outra alternativa, saí fazendo o percurso para um hospital mesmo sem saber qual. Depois de alguns minutos (a cidade não era muito grande) divisamos o Hospital Universitário e logo a seguir o nosso Hotel Meliá.
Pensamos que o problema estava resolvido. O interessante é que uma das especialidades de referência daquele hospital é a ortopedia e o hotel era adaptado para receber pacientes no pós-operatório. Havia corrimão em todas as paredes, rampas em vez de degraus, as portas eram bastante largas para os cadeirantes, etc. O restaurante estava cheio de pessoas com muletas de todos os tipos, outras engessadas ou em cadeira de rodas. Com frequência tínhamos que auxiliar alguém a se servir ou a se locomover. Até a loja de conveniência do hotel incluía principalmente produtos necessários aos enfermos. É assim passamos todo o tempo nessa convivência.
Ao sairmos, fomos à tal loja na busca de algum souvenir, mas estávamos tão ligadas nos problemas dos hóspedes que terminamos comprando uma bengala para cada uma, mesmo sem necessitarmos, porque se um dia… já tínhamos de boa qualidade!
Noutra oportunidade, recebi um convite da Universidade de Buenos Aires para fazer uma palestra em Seminário promovido pela Faculdade de Direito. Já era noite quando cheguei e do aeroporto levaram-me para o hotel onde deveria passar uns quatro dias. Excelente hotel. Só que no dia seguinte pela manhã, resolvi abrir a janela para apreciar a vista. Que susto, dava exatamente para dentro do conhecido cemitério da Recoleta, onde estão sepultadas pessoas famosas, inclusive Eva Perón. Fechei rapidamente a janela e passei todo o tempo sem sequer abrir a cortina. À noite, o medo era grande!
Agradecimento: gostaria de agradecer, muito sensibilizada, a todos os amigos que afetuosamente estiveram presentes nas homenagens que recebi ou se manifestaram por ocasião da minha aposentadoria do Tribunal Regional Federal.