O carnaval é uma boa época para os que já não brincam recordarem-se doutros tempos, diferentes, mas igualmente agradáveis. Dentre as lembranças, me veio a dos filhoses com aquela calda quase dourada de açúcar. Como era bom saboreá-los regiamente regados com a calda quando se chegava dos bailes do Internacional, o dia já clareando. Nem sabíamos que aquela sensação de bem estar era a glicose compensada pelo consumo nos passos do frevo. Mas era preciso ter cuidado e resistir ao cachorro quente (delicioso) na madrugada da quarta-feira de cinzas.
Muitas comidas estão associadas para mim a festas do ano. A Semana Santa tinha um cardápio maravilhoso: vatapá, caruru, moquecas, peixe, bacalhau e feijão de coco! Para jejum, eram um tanto fortes! Num dos dias, minha mãe fazia o “mingau pitinga”. Nunca mais vi tal prato. Resolvi pesquisar e achei-o incluído na culinária de Sergipe. Acho que devia ser alguma receita que ela recebera das suas primas do lado sergipano da nossa família.
O São João nem se fala – todas as comidas de milho verde. Trabalhosas, debulhar milho era tarefa para a turma jovem. Embrulhar as pamonhas, arte complicadíssima, só mesmo para as especialistas. Mexer o caldeirão da canjica, os adultos! E os bolos: de milho, pé de moleque, grude, entre outros. Tive dificuldade ao receber um visitante de língua inglesa que experimentou o grude e perguntou o nome daquela deliciosa sobremesa. Tradução desaconselhável!
O Natal sempre teve uma ceia muito especial. Meu pai, médico, recebia muitos perus de presente. A confusão começava com o abate! O presunto da Salsicharia Pernambucana, junto da Basílica da Penha era disputado pelos clientes num empurra-empurra grande. As ameixas, passas e tâmaras vinham da Phoenix. Os pastéis, menos populares do que hoje, só apareciam naquela época porque a massa era feita em casa. A preparação exigia uma verdadeira linha de montagem. Minha mãe fazia e abria a massa, minha irmã colocava o recheio (carne de porco moída com azeitona), a cozinheira fritava e eu, sentada ao lado do fogão, passava o açúcar e me concedia o privilégio do controle de qualidade, ou seja, aqueles fora do padrão eram imediatamente consumidos. Até hoje não resisto a um pastel de Natal!