Medalha do Mérito Heroínas de Tejucupapo

COMISSÃO SECCIONAL DA MULHER ADVOGADA – OAB-PE

DIA NACIONAL DA MULHER

MEDALHA DO MÉRITO HEROÍNAS DE TEJUCUPAPO

DATA: 26 DE ABRIL DE 2005

PALAVRAS DE: MARGARIDA CANTARELLI

Senhor Presidente da Seccional da OAB-Pe – Júlio de Oliveira e demais Conselheiros;

Senhora Presidente da Comissão Seccional da Mulher Advogada – Marileide Nunes;

Integrantes da Mesa, demais autoridades,

Amigas agraciadas com a Medalha do Mérito Heroínas de Tejucupapo

Senhoras e Senhores.

Recebi, com muita satisfação, o convite das minhas colegas de sempre e amigas Marileide, Graça, Almira e demais integrantes da Comissão Seccional da Mulher Advogada, o honroso convite para participar deste evento, trazendo uma mensagem sobre o DIREITO INTERNACIONAL DA MULHER.

A minha satisfação se deve a muitos motivos. Enumerá-los não significa priorizá-los pela ordem do enunciado, mas pelo fato de não se poder falar tudo ao mesmo tempo. Alegra-me, sempre, retornar a esta Casa, onde fui a primeira mulher a ser Vice Presidente, no já distante mandato do saudoso Moacyr Baracho, na década de 70, nos piores anos do regime militar onde a OAB era a guardiã dos direitos humanos; por representar a nobre classe dos advogados, pelo Quinto Constitucional, no Tribunal Regional Federal da 5a Região; por participar  de mais uma comemoração do Dia Nacional da Mulher, com o reconhecimento do mérito de DEZ notáveis mulheres, profissionais e excepcionais figuras humanas, dignas da tradição pernambucana de mulheres valorosas, que a História registra – as Mulheres de Tejucupapo –  CARMELA GALINDO, Delegada de Polícia que labuta num dos mais difíceis campos dos dias atuais que é o da segurança pública, tão atingida pela incontrolável onda de violência que assola na nossa cidade, expõe sua vida pelo bem da coletividade;  DUCILENE M ORAES, reconhecida líder sindical, representando e sendo a voz das reivindicações de grupos que desejam acima de tudo um tratamento digno para o seu trabalho e a sua vida na sociedade. A luta sindical ainda é difícil, mesmo no tempo de normalidade democrática porque cada conquista pode representar uma perda de poder para grupos tradicionalmente detentores dele, com exclusividade; DULCINÉA NASCIMENTO, defensora pública, atividade dentro da advocacia das mais enobrecedoras porque além do trabalho profissional em si, oferece aos que a procuram um dos mais sagrados direitos da cidadania que é o acesso à Justiça àqueles que não têm meios para alcança-lo. Em Casa Amarela doou o melhor dos seus esforços pelos dessassistidos. ESTER AZOUBEL, médica, professora, autora de muitas obras, conferencista, competência ímpar. Ester sempre tem o que ensinar. Minha amiga de muitos anos quando eu me atrevia num seleto grupo de grandes médicos do Recife ( como, Ester, José Alberto Maia, Vital, Teles) e procurávamos estudar o idioma tedesco, na recém criada Cultura Gemano-brasileira, e depois seguimos com Dom Conrado, monge de São Bento. Idioma, por sinal, hoje na moda por ser a língua mãe do Papa Bento XVI. Aprendi a admirar Ester Azoubel pela sua atuação na Universidade Federal de Pernambuco, como eficiente Diretora do Centro de Ciências da Saúde, mas o que a torna uma excepcional mulher é, sem dúvidas, ser uma missionária do amor na dedicação aos seus pacientes. Mas do que lhes restituir a saúde, ela oferece-lhes o melhor do seu sentimento, de sua compreensão e ajuda; LUCIANA AZEVEDO, vereadora, política, lutadora por natureza, incansável, dedica-se por convicção às causas que defende e se doa ao bem público, por completo. Tivemos muitas oportunidades de nos encontrar, e mesmo não estando no mesmo lado político, mantínhamos a maior cordialidade e especial respeito pessoal, porque entendíamos que podíamos utilizar caminhos diversos, mas o nosso objetivo era sempre o mesmo, servir ao povo do Recife. MARGARIDA CARDOSO, minha xará, representante das mulheres advogadas do interior de Pernambuco, ilustre presidente da Subseção de Caruaru. Estivemos juntas na luta pela instalação da Vara Federal naquele Município: para conseguir uma casa – sugestão sua; para a doação do terreno – feito seu, na instalação do Juizado Especial Virtual, colaboração sua. É a grande defensora dos advogados e, especialmente, daqueles menos favorecidos que precisam que o direito os ampare. Sua vida é um exemplo de doação aos outros, aos pobres e de serviço à Justiça. MARIA DE LOURDES ARAUJO, LOURDINHA, minha companheira de muitas homenagens que recebemos na mesma ocasião, sentadas lado a lado, hoje tenho a alegria de dizer-lhe o quanto a admiro, pela mulher líder, forte, que está sabendo com habilidade e competência transformar uma nova forma de serviço ao público que é a previdência privada da saúde. E o faz sem perder de vista que está lidando com o que há de mais precioso no ser humano – a vida. NENA PACHECO, na sua pessoa é impossível deixar de reverenciar as suas origens: Plínio e Diva Pacheco que lhe ensinaram o valor da cultura, do regional, da importância da nossa Fazenda Nova, sim, nossa, porque também me sinto um tanto de lá. Você simboliza um movimento artístico, uma dedicação de vida à causa das artes que dá a Pernambuco um lugar de destaque dentre os movimentos similares. Eu me lembro de  Fazenda Nova antes do teatro. Do espetáculo nas ruas, patrocinado por seus avós e toda família Mendonça, acompanhei pedra a pedra o crescimento do Teatro e vi o esforço e o devotamento com que tudo era feito. Você, certamente, seguirá a mesma trilha, de amor a terra e dedicação à cultura. RITA MALTA, defensora pública. Rita é um símbolo da transformação da velha Assistência Judiciária em Defensoria Pública – optou por isso. Lá prestou relevantíssimos serviços que a sua ausência, pela aposentadoria, só faz exalta-los. Rita criou o Departamento para atuar junto à 2a. Instância – a Subdefensoria de Recursos Cíveis e Criminais. Rita descobriu que pobre não direito ao duplo grau de jurisdição, que o seu acesso à justiça era capenga. E Justiça pela metade é injustiça acobertada. Dedicou-se, organizou tudo com a sua capacidade invulgar de trabalho – dia e noite, a toda hora. E agora na Associação de Cônjuges de Magistrados está continuando o seu trabalho com a sua dedicação esse seu inesgotável dom de servir. Minha amiga Rita, é uma alegria vê-la aqui homenageada pelo seu valor, por você mesma, embora todos nós  admiramos e respeitamos profundamente o grande magistrado, hoje Presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Macedo Malta. É um casal que se merece pela grandeza de cada um. VERA DELLA SANTA, “the last but not de least”,
A ordem alfabética colocou-a no décimo lugar, apenas isto.  Minha querida Verinha, Veruska, Comadre e tantas outras formas fraternas de nos tratar. Você é para mim mais que uma amiga, uma irmã muito querida, uma conselheira permanente, onde sempre me reporto quando, como qualquer ser humano, preciso conversar, discutir, escolher caminhos. Você está sendo homenageada com o mais lindo e abrangente dos títulos – professora. Muitos outros poderiam lhe ser apostos – Mestra e Doutora em Direito, Coordenadora de vários Cursos Jurídicos na nossa terra, ex Vice Diretora da Faculdade de Direito do Recife, etc. e etc. Você é Professora de Direito – Civil, Econômico, do Consumidor, e de vida. Você tem arte de harmonizar, de conciliar, de ouvir, da tolerância, de encontrar soluções. Coisas raras num mundo onde não se tem tempo sequer para ser gente. É muito justa a homenagem que a Ordem dos Advogados lhe presta pelo tanto que você tem feito pela formação dos futuros advogados. Gerações e gerações passaram por sua orientação, e não se deu bem quem não soube ouvir os seus conselhos. Continue sempre assim irradiando os melhores sentimentos do ser humano: dedicação, respeito e amor pelo próximo. De parabéns está a Ordem e todas nós, pela conjugação positiva de pessoas e sentimentos nesta homenagem, em respeito à mulher que a própria figura da Justiça, também mulher, representa.

Li um livro entitulado “Brasileiras Célebres”,  escrito por Joaquim Norberto de Souza Silva e publicado em 1862, no Rio de Janeiro. No capítulo sobre “Armas e Virtudes”, no Brasil Colônia, se reporta à Guerra Brasílica, fala das “senhoras pernambucanas de Tejucupapo” e descreve o episódio. Diz: “as senhoras de Pernambuco conquistaram os louros do triunfo, pelo ânimo com que em repetidas ocasiões se atreveram a manejar as armas, onde já desfaleciam as forças dos cabos e soldados. As dignas e corajosas Pernambucanas compreenderam o perigo a que se expunham seus maridos, seus pais e seus filhos, e pegaram em armas e correram a meias do reduto. O exemplo encoraja os peitos varonis. Três vezes investe o inimigo, três vezes é rechaçado pelo denodo das formidáveis guerreiras. Infelizmente a história esqueceu-se de seus nomes, que deveriam ornar essas páginas tão ricas de reminiscências heróicas, são unicamente delas os louros de tão assinalado feito”.

Mas, se a História escrita pelos homens, esqueceu de registrar os seus nomes, nós podemos identificá-las pela coragem de outras mulheres, noutros campos de batalha, que também honram a todas as pernambucanas. Hoje elas aqui se chamam: Carmelita galindo, Dulcilena Moraes, Dulcinea Nascimento, Ester Azoubel, Luciana Azevedo, Margarida Cardoso, Lourdinha Araujo, Nena Pacheco, Rita Malta e Vera Della Santa.


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