O genocídio esquecido

Estava, há uns quatro anos, numa livraria em Buenos Aires quando vi na estante sobre Direitos Humanos um livro que despertou a minha atenção: “El Primer Genocidio del Siglo XX, Regreso de la memoria armenia”, de Rita Kuyumciyan. O sobrenome da autora indicava a sua origem armênia. Lembrei-me de uma referência que havia feito na minha tese de doutorado sobre esse caso. Conhecia o documento conjunto da Grã-Bretanha, França e Rússia, de 1915, protestando ante o governo do Império Turco Otomano pelas atrocidades cometidas contra os armênios e responsabilizando penalmente os autores de tais crimes. Sabe-se que existiam mais de dois milhões de armênios espalhados pelo Império e foram exterminados cruelmente nas suas terras, nos desertos da Síria e da Mesopotâmia ou desterrados sob a denominação jurídica de “deportação”, cerca de um milhão de meio. 

 Lamentavelmente o Tratado de Paz do final da 1ª Guerra Mundial, relativo à Turquia – Tratado de Sèvres (1920) não tratou dos crimes, apenas de fronteiras (art. 88/89). Tal Tratado cuidou até da criação de um Estado para os curdos (o Curdistão), o que não se concretizou e onde hoje o Estado Islâmico pratica as mesmas atrocidades. 

Mas, com relação ao massacre massivo dos armênios, o silêncio encobriu por completo os fatos. Cherif Bassiouni, um dos maiores nomes do Direito Penal Internacional, ressaltou as funestas consequências de os Aliados vitoriosos não terem castigado os autores desses crimes contra a Humanidade o que, no seu entender, trouxe consequências profundas para o Ocidente durante a 2ª Guerra Mundial.

Recentemente, o Papa Francisco recebeu representantes do povo armênio no Vaticano e reconheceu a existência do Genocídio o que causou desconforto nas relações com a Turquia. Na semana passada, na Basílica de Aparecida, o Cardeal D. Raymundo  Damasceno, na celebração da Missa dominical, acolheu a comunidade armênia de São Paulo, tanto religiosa como civil.

Há algum tempo, a conhecida atriz Aracy Balabanian, integrante da comunidade, interpretou na novela Rainha da Sucata, na Televisão, uma personagem com o nome de D. Armênia, certamente numa homenagem ao seu povo.

Mesmo transcorrido um século, é importante que o genocídio armênio, sempre negado pela Turquia, seja relembrado pelos que têm compromisso com os Direitos Humanos e com a verdade da História.


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