O Museu incestuoso

                    Contam os maldizentes que numa Instituição literária renomada, um dos seus Presidentes, procurando fazer uma administração eficiente e destacada, já que o seu mandato se alongava sem grandes realizações, resolveu organizar, na forma de um Museu, o grande acervo de obras de arte que constituía o patrimônio do bonito casarão onde foi instalado há décadas, pela generosidade de um governante mecenas.

                                Convidou para a tarefa uma filha arquiteta, conhecedora da boa distribuição dos espaços, e um cavalheiro que se apresentava como museólogo, portanto, não precisaria do apoio de historiadores, genealogistas e outros profissionais que já haviam estudado e eram conhecedores do acervo a ser exibido.

Inauguração festiva, notícias nos jornais! Os móveis arrumados, jarros e jarrões bem colocados, todos os retratos colocados aos pares nas paredes do casarão! Não se sabe se feliz ou infelizmente, o referido dirigente concluiu seu mandato e não abriu para visitação do público o Museu inaugurado.

A sucessora, mulher culta e observadora, andou pelas salas vendo as peças, olhando com atenção os retratos e pensava com os seus botões: “como é que este senhor tão garboso foi se casar com uma senhora tão feia e aparentando ser tão mais velha do que ele?”, e completava o pensamento: “por isso o sogro gostava tanto dele, desencalhou a feiosa”. Prosseguindo no passeio, na sala seguinte, encontrou exatamente o oposto. Era um senhor idoso com o retrato pendurado ao lado de uma linda jovem. Pensou: “este se deu bem, casou-se com uma linda moça”.

Meses passados, um arquiteto e historiador se oferece para fazer um catálogo das peças do museu, inclusive se dispondo a fotografar ele mesmo todos os objetos, o que seria indispensável para abrir à visitação.

Qual não foi a surpresa! O senhor garboso tinha ao lado a sogra e não a esposa! E o velhote estava casado com a filha! O museólogo despreparado arrumou as telas pelas molduras e não pela identidade dos retratados.

Se no mundo de hoje, com toda a liberdade de convivência entre jovens, os casamentos duram pouco, o que pensar quando partem apenas da igualdade de molduras? Exibir um incesto e um adultério não é um bom começo para um Museu, salvo se o caso for transformado em tema para um bom romance com intrincada trama familiar. Esperemos.


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