Os jardins do Vaticano

Nada mais tranquilo do que um passeio num fim de tarde pelos belos jardins do Vaticano. Um ou outro sacerdote caminhando! Mas o que se vê é o sol refletindo sobre a cúpula da Basílica de São Pedro através das copas das frondosas árvores espalhadas pelos canteiros cuidadosamente tratados. Os jardins ligam os edifícios onde funcionam a administração do minúsculo Estado e a grande máquina da Igreja. Parecia um sonho! 

        O Vaticano sempre exerceu sobre mim fascínio que ia além das suas Basílicas e dos seus museus. Assim, quando recebi em 2013, um convite visita-lo, não deixei passar a oportunidade, sem imaginar que viveria momentos relevantes da história atual da Igreja. Era fevereiro, quando desembarquei em Roma e fui diretamente para a Casa de Santa Marta, onde ficaria hospedada por uma semana. Sabia apenas que o local fora mandado construir por João Paulo II para hospedar os cardeais durante os Conclaves, e, como estes são raros, noutros períodos ficavam os convidados e residiam membros da Cúria Romana. 

      A Casa Santa Marta é acolhedora, sobriamente decorada, sem ostentação. Ao entrar, recebi um chaveiro de metal com as iniciais D.S.M. (Domo Santa Marta) que daria acesso não só ao apartamento reservado (nº 209), mas às dependências do Vaticano. A Casa tem uma capela moderna e o refeitório agradável permitia o contato entre os hóspedes e os residentes.  No segundo andar há um aposento de número 201, em frente ao meu, que se mantinha fechado. Informaram-me que era destinado ao Cardeal que fosse eleito Papa num Conclave até a sua mudança definitiva para os aposentos, no Palácio.

        Com o salvo-conduto do chaveiro e as palavras mágicas “Santa Marta”, foi possível entrar bem cedo na Basílica de São Pedro por uma porta lateral; apreciar a Pietá com toda tranquilidade; ficar longo tempo diante do altar do então Beato João Paulo II. Pude visitar com toda calma a Capela Sistina e o Museu do Vaticano, livre de turistas barulhentos.

      Compareci à audiência do Papa Bento XVI, na quarta-feira 6 de fevereiro de 2013. Notei que ele caminhava com dificuldade, bastante encurvado. Saiu do mesmo modo. Nunca imaginei que dois dias após a minha partida, Bento XVI deixaria por vontade própria o Trono de Pedro e que eu tinha estado presente na sua última audiência.

       Veio o Conclave, a Casa Santa Marta encheu-se dos Cardeais eleitores até que foi escolhido o Papa Francisco. Pensei comigo mesma, como ele é muito simples, vai querer ficar por lá. Não vai trocar aquele ambiente agradável pela solidão dos aposentos Papais.  

    Os jardins do Vaticano são os mesmos na tranquilidade das tardes, mas agora sempre primavera porque dentro dos prédios que contornam, fervilha um novo tempo para a Igreja!


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