SOLENIDADE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO
SESSÃO COMEMORATIVA DOS 107º DE CRIAÇÃO DO IHGP
ENTREGA DO TÍTULO DE SOCIA HONORÁRIA
DATA: 13 DE SETEMBRO DE 2012.
LOCAL: SEDE DO IHGP
PALAVRAS DE: MARGARIDA CANTARELLI
Senhor Presidente,
Membros da Diretoria e Associados do IHGP,
Senhoras Maria Ida Steinmuller e Juciene Ricarte Apolinário
Senhoras, Senhores,
É com imensa satisfação que venho à querida Paraíba para receber o título, muito honroso para mim, de sócia honorária do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. E mais honrosa ainda se torna por ter ao meu lado, como condôminas da gratidão as historiadoras Maria Ida Steinmulller e Juciene Ricarte Apolinário. Ambas, além de um vasto curriculum em atividades administrativas, de magistério, graus acadêmicos, pesquisa histórica, tiveram o especial mérito da criação, instalação e funcionamento do Instituto Histórico de Campina Grande, como presidente e vice-presidente respectivamente. A “Casa de Elpídio de Almeida” não poderia estar em melhores mãos, pois vejo como complementares o perfil de cada uma. Nós que integramos Institutos mais antigos, recebemos com grande alegria o olhar e as ações construtivas de filhos da terra voltados para o resgate do seu passado. Campina Grande e regiões circunvizinhas deram relevante contribuição à História nordestina e merecem maior destaque e respeito ali e alhures. O Patrono daquela Instituição, político e médico Elpídio de Almeida, cuja vida foi ricamente voltada para o bem de Campina Grande, certamente guiará os passos da Instituição nascente.
O Instituto Histórico e Geográfico Paraibano que hoje completa os seus 107 anos de existência, portanto, mais que centenário, é credor do respeito da sociedade não só deste Estado, mas dos Estados vizinhos e da região. Como o nosso Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano que este ano completa os seus 150 anos, este Instituto é paraibano, revelando um sentimento muito forte – de paraibanidade, desde a sua criação, resgatando fatos e dos feitos históricos que antes estavam espalhados na obra de historiadores, muitos estrangeiros ou de outras regiões, e quase sempre minimizados ou mesmo omitidos no significado histórico da participação do povo deste Estado. Este sentimento de amor à verdade histórica tem movido os esforços de gerações nos nossos Estados, sem diminuir o interesse inclusive de jovens historiadores que buscam nos nossos acervos temas de pesquisa e teses acadêmicas. Isto nos alenta por ver que o que herdamos, terá continuidade.
A História da Paraíba e a de Pernambuco estão umbilicalmente ligadas. Poderia nesta hora citar incontáveis episódios, lembrar muitos nomes. Mas devo me limitar a poucos. Dois nomes me vieram à mente: André Vidal de Negreiros e Maximiano Machado e um acervo comum: o inventário dos bens dos Jesuítas antes da expulsão do Brasil.
André Vidal de Negreiros, herói brasileiro e súdito português nascido no engenho São João, Capitania da Paraíba, Brasil, chefe e inspirador da chamada insurreição pernambucana contra a colonização holandesa no Brasil (1624-1654), que na realidade foi a insurreição nordestina. Alistou-se para combater os holandeses e lutou quando da invasão de Salvador na Bahia (1624). Após oito anos em Portugal e Espanha, voltou ao Brasil para lutar contra o governo de Maurício de Nassau, instalado em Pernambuco e capitanias vizinhas. Voltou a se envolver no conflito participando de todas as fases da Insurreição (1645-1654), quando mobilizou tropas e meios nos sertões nordestinos.
Considerado um dos melhores soldados de seu tempo, tomou parte, com grande bravura, em quase todos os combates contra os holandeses. Foi nomeado Mestre-de-Campo, notabilizando-se no comando de um dos Terços do Exército Patriota, nas duas batalhas dos Guararapes (1648 / 1649) ao lado de João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Filipe Camarão. Nassau ofereceu dois mil florins por sua cabeça, e ele respondeu com uma oferta de seis mil cruzados pela cabeça do conde holandês. Herói do combate da Casa Forte, entrou no Recife com seus companheiros e, após a rendição final dos holandeses (1654), foi escolhido para levar a Lisboa a notícia da vitória e expulsão dos holandeses ao rei D. João IV (1640-1656). Foi condecorado e nomeado governador-geral e Capitão-Geral da Capitania do Maranhão e do Grão-Pará (1655-1657). Depois foi governador da Capitania de Pernambuco (1657-1661 / 1667) e de Angola, na África (1661-1666).
Morreu no Engenho Novo da Vila de Goiana, atual estado de Pernambuco.
Campanha teve em Machado um paladino.
Discurso de desagravo a Hygino, que perseguido por ser republicano, teve seu salário na FDR cortado e foi obrigado a retornar às pressas da Holanda, suspendendo a missão de coleta de documentos históricos.(ver trecho abaixo retirado da História Ilustrada do IAHGP
“Os resultados da missão foram apresentados em maiores detalhes num discurso de três horas proferido por Hygino no IAHGP em 9 de maio de 1886. Apesar da magnitude da iniciativa e dos seus impressionantes resultados, as dissensões políticas impediram que José Hygino pudesse ter mais tempo de pesquisa na Europa. Sua militância republicana atiçou o revanchismo de opositores políticos. Em 3 de janeiro de 1886 Hygino havia sido comunicado de que por ordem do Inspetor da Tesouraria de Pernambuco – o Barão de Mamoré, na altura ministro do Império – seu salário de professor da Faculdade de Direito havia sido suspenso.
Logo após a longa fala de Hygino, Maximiano Lopes Machado proferiu um discurso de desagravo ao pesquisador pernambucano. Destacou com a retórica característica da época os principais fatos da presença holandesa em Pernambuco. Destacou que a visão parcial de Varnhagen sobre a história da província precisava ser repensada e para isso estava o Instituto formado. Manifestando seu total repúdio pela suspensão dos vencimentos de Hygino expressou: “Já vimos, Senhores, que um ministro de Estado e senador de Pernambuco nos trancara a porta da aquisição de elementos viçosos e robustos que dissipassem as dúvidas e erros da história, e expusessem ao mesmo tempo à imaginação as fontes da poesia e literatura nacional. Veio outro, malgrado o dizermos, também do Norte, como um tufão esterilizador, arrancar pela raiz a arvorezinha que cultivávamos com esmero, quando principiava a dar os seus primeiros frutos! Não há de duvidar: o cancro da centralização política e administrativa estende as suas raízes ao cérebro do Norte!”. Lopes Machado agradeceu ainda a João Alfredo Correia de Oliveira pela fundamental ajuda na repatriação de Hygino e defendeu a urgência da publicação do material na Revista.”
Estes dois nomes bem demonstram o quando estivemos, estamos e continuaremos irmanados.
Gostaria, ainda, antes de finalizar, de falar sobre um acervo que este ano, pelo IAHGP, apresentamos como candidatura ao reconhecimento pelo Comitê da UNESCO – Memória do Mundo, 2012. Trata-se do inventário dos bens dos Jesuítas existentes em Pernambuco antes da expulsão desta Ordem Religiosa no ano de , em razão da conhecida ordem do Marques de Pombal.
Devo dizer que temos não só o inventário dos bens em Pernambuco, mas também na Paraíba e Rio Grande do Norte. Se tivermos a nossa candidatura aprovada, poderá este Instituto, no próximo ano, pedir a extensão do reconhecimento também para este acervo específico.
No ano de 2011, o Arquivo Nacional da Holanda, após conveniar com várias Instituições do mundo inteiro, como o Museu Britânico e a Biblioteca Nacional Britânica, os Arquivos do Vaticano, do Congresso Americano e o nosso IAHGP, publicou o conjunto de mapas da Companhia das Índias Ocidentais, como anteriormente fizera com os da Companhia das Índias Orientais. Tivemos o prazer de ceder imagens de 26 mapas que eles não dispunham e recebemos bem maior número relativos ao Brasil e à costa da África que também nós não dispúnhamos.
Examinando o livro que recebi do Arquivo Nacional, encontrei várias imagens relativas à Paraíba, e disponibilizo tais mapas para exame dos interessados deste Instituto. Mas, apenas para deixar um gostinho de “quero mais” trouxe como uma lembrança para o IHGP duas imagens cujos originais se encontram no Museu Britânico e que ora, agregando aos meus mais emocionados agradecimentos pelo título que nos outorgaram, generosamente para mim, e merecidamente para as professoras Maria Ida e Juciene, passo às mãos do presidente Joaquim Osterne.
Muito grata.