Todas as pessoas que visitam Lisboa têm um endereço certo para ir – a famosa Pastelaria onde são servidos os inigualáveis Pastéis de Belém. Filas enormes, especialmente aos fins de semana não afastam os que desejam saborear um dos doces mais famosos do mundo. Os que conhecem bem Lisboa sabem que a Pastelaria Versailles, na Avenida da República, bem perto do Saldanha, tem uma variedade enorme de doces deliciosos. A minha preferência é pelo chamado “pão de Deus” que faz jus ao nome. Quando o voo da TAP chegava às seis da manhã, esperava a hora do check-in do Hotel, na Versailles uma boa maneira do tempo passar sem se sentir.
Mas, o que me impressiona em Portugal, não só em Lisboa, é o papel social das Pastelarias. Passei um mês frequentando sempre a mesma Pastelaria no começo da Estrada de Benfica, bem próximo ao apartamento onde estava vivendo. De manhã cedo, apesar do frio e com o comércio fechado, a Pastelaria estava aberta servindo um bom pão com tudo mais para o “pequeno almoço”, como é chamado o café da manhã. Muitos, especialmente os bem idosos, estavam diariamente ali, alguns apenas para comprar o pão, outros faziam a sua refeição. Mas era, sobretudo, um ponto encontro, sempre as mesmas pessoas, com casacos pesados, suas bengalas, cabeças alvas, conversando entre si e com os que serviam. Eram tratados pelos nomes com intimidade respeitosa, mas prova de um conhecimento anterior.
A mesma cena se repetia a partir das onze e meia quando chegavam para aguardar o almoço. No cardápio havia apenas dois pratos, mas diferentes a cada dia. Uns almoçavam ali mesmo outros levavam suas quentinhas e pedem sempre “meia dose” expressão que se usa para quantidade menor (como se fosse meia porção) o que dava a entender que eram pessoas que vivam sós. Vi, a atendente cortar o almoço em pedaços pequenos e por o prato bem em frente de um senhor com a visão reduzida, colocando o garfo em sua mão para que percebesse onde estava a comida.
Ao final da tarde, era a sopa que atraia os clientes. Se eu chegasse depois das cinco, já havia terminado. Perguntei ao garçom se ele conhecia todos e pelos nomes, me respondeu que sim e se algum não aparecesse iam procurar saber o que havia acontecido porque eram mais que fregueses, eram amigos da Casa. E assim os dias se passavam naquele grupo de idosos que encontram numa Pastelaria, convivência, cuidados e acima de tudo, afeto.