CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PORTO
XXV VOO DA AMIZADE
DATA: 11 de junho de 2008.
PALAVRAS DE: MARGARIDA CANTARELLI
Senhor
Esta é a terceira vez consecutiva que tenho a satisfação e a oportunidade de transmitir em nome da Associação dos Amigos do Porto, na condição de sua atual presidente, os nossos agradecimentos pela gentil acolhida que recebemos nesta cidade irmã.
Este ano, temos uma razão especial para celebrar, pois este é o XXV vôo da Amizade. São vinte e cinco anos que ininterruptamente um grupo de recifenses, nordestinos, brasileiros enfim, aqui vem apertar os laços que nos unem desde sempre e mais especificamente desde a longínqua geminação entre o Recife e o Porto. Já tive a oportunidade, em anos passados, de apontar as semelhanças entre as duas cidades – um rio que as corta, as pontes que as embelezam, as igrejas que se parecem, a comida que sabe bem, acabando por constatar que as semelhanças são mais fortes do que naturais diferenças. E tanto isto é verdade que um gesto só se repete por 25 anos se houver uma forte razão a movê-lo. O mesmo ocorre com os “Amigos do Recife” que também nos visitam com certa periodicidade.
E mais, a nossa Associação não se limita a esta viagem anual. Temos muitos outros eventos ao longo do ano. No campo esportivo, já estamos no XV Torneio Anual Luso-brasileiro de hokey sobre patins, na cidade do Recife, com o apoio da Prefeitura Municipal, sob a coordenação do nosso diretor Marcelo Vilock. A equipe de handball do Futebol Clube do Porto, no próximo mês, fará dois jogos no Clube Português do Recife, igualmente com patrocínio municipal. No campo cultural são freqüentes as conferências de médicos, juristas e de outras especialistas, dos dois lados, que disponibilizam os seus conhecimentos com brilhantismo, dentro desse espírito de cooperação.
Agora mesmo, no próximo mês de julho, faremos em conjunto com a Universidade Federal de Pernambuco, uma grande exposição em homenagem ao famoso arquiteto português, de reconhecimento internacional – Álvaro Siza Vieira. As maquetes de suas obras já se encontram no Brasil, como cópias de inúmeros dos seus projetos arquitetônicos. Auxiliamos, como muita satisfação, na solução dos problemas de transporte e aduaneiros para que as peças chegassem em tempo hábil para uma idêntica exposição na Universidade Federal do Pará. De Belém do Pará todo o acervo será exposto no Recife, no Centro de Artes da nossa Universidade, só retornando ao Porto em agosto. Será uma oportunidade impar para os arquitetos, estudantes de arquitetura e áreas afins, do Recife e mesmo de estados vizinhos, conhecerem tão valiosa contribuição à arquitetura moderna. Graças ao empenho da Associação dos Amigos do Porto, pelo arquiteto Moises Agamenon Andrade, tudo está caminhando a bom termo.
Mas neste ano há dois outros fatos, senhor Presidente, que merecem registro. Um relativo ao passado outro ao nosso futuro comum. Do passado registramos e celebramos os 200 anos da ida da Família Real e toda a Corte Portuguesa para o Brasil. Essa transmigração proporcionou grandes mudanças no nosso país, como a abertura dos portos, a criação do Banco do Brasil, da imprensa, do curso de medicina, e, sem dúvida, abriu caminho para o surgimento do estado brasileiro independente. Diferentemente da quase totalidade dos outros movimentos de emancipação, o nosso foi deflagrado por um membro da própria Família Real portuguesa e que se tornou o nosso primeiro imperador – D. Pedro I, o mesmo D. Pedro IV, cuja estátua eqüestre se encontra nesta Praça, a poucos metros deste local, bem como o seu coração remanesce em terras portuenses. Como se vê, nunca coube entre nós lugar a rancores em relação aos colonizadores, até porque a miscigenação promovida no período colonial fez com que nas veias de cada brasileiro, corra um sangue bem misturado – português, negro e nativo. Não somos raça pura, nem queremos ser, somos apenas brasileiros, criativos, alegres, dóceis, até acomodados. Isto nos basta porque, apesar de todas as dificuldades, vivemos em paz interna e externamente, e assim procuramos trilhar o nosso caminho do futuro.
E por falar em futuro, o outro fato a celebrar foi a recente aprovação pelo Parlamento Português do II Protocolo do Acordo Ortográfico da língua portuguesa, destinado a unificar seu uso em todas nações lusófonas. Acompanhei todo o processo desde a assinatura há 16 anos, sei que houve resistências considerando alguns que se tratava de concessão ao Brasil. Todavia, não deve assim ser entendido, ao contrário ser motivo de justo orgulho. A língua, efetivamente, é um grande patrimônio, e a língua portuguesa falada hoje por cerca de 230 milhões pessoas, das quais mais de 180 milhões estão no Brasil, é patrimônio de Portugal e de todos que a usam. O patrimônio público é para ser compartilhado, senão termina como o tesouro daquele rei mouro da história de Lamego, a ninguém serve, nem ao seu dono. E a importância, que entendo ser a razão do orgulho, é que foi Portugal que a difundiu por todos quadrantes – Europa – a metrópole, América do Sul, África e até no distante Timor Leste. Uma língua é viva e como tal se transforma, fruto do seu uso. Temos no Brasil um crescente mercado leitor que espera pela rica produção literária portuguesa, levando com a língua a cultura, o caráter, os costumes, enfim, a alma de um povo.
Senhor Presidente,
Estamos fechando um ciclo de 25 anos de um formato de cooperação, nascida do amor a Portugal dos fundadores desta Associação e mantida com muito entusiasmo pelos seus continuadores. Que o mesmo se diga dos nossos co-irmãos Amigos do Recife. Creio que é tempo de mudar, procurar novo modelo, ampliar sua abrangência física e de objetivos. E assim, com a Associação dos Amigos do Recife buscaremos esses novos caminhos. Não queremos ser inoportunos, insistindo em algo que já não atende aos tempos, nem pretensiosos de considerar relevante a cooperação que fazemos. Que minhas palavras não soem como despedida, mas certamente como anúncio de algo diferente que pretendemos empreender doravante.
Depois de quatro agradáveis dias que aqui passamos, amanhã levantaremos âncora, ou melhor dizendo, alçaremos vôo na continuação desta viagem/aventura tão ao gosto dos nossos ancestrais e que a tecnologia veio a nos facilitar.
Assim, receba, senhor Presidente, os nossos cumprimentos dizendo que para nós esses vinte e cinco anos valeram a pena – porque tudo vale a pena se a alma não é pequena.